Observe com atenção e descobrirá que uma das nossas maiores dificuldades é a de pedir desculpas. Disfarçamos, fazemos de conta não ser com a gente. Como se fosse algum pecado admitir uma falha. Na época atual, percebo isso aumentando exponencialmente nas relações. A origem, provavelmente, está no tecido social, que vê com maus olhos quem se equivoca, como se a perfeição fosse um constante atributo humano. Aliás, a verdadeira aprendizagem tem como destinatários todos os praticantes da humildade, pois sabem, por experiência própria, como é difícil acertar sempre. Misture outro ingrediente explosivo, a vaidade, e verá como são poucos os modelos a serem copiados. Dá para entender semelhante atitude se vinda de um adolescente, por este precisar de reconhecimento permanente. Nota-se vir de longe essa severidade. Mas sofrer tardiamente é inútil: a falha de hoje tem como destino o esquecimento amanhã.
Como deve ser o dia a dia de alguém cheio de convicções, que não se preocupa com questões dessa ordem? Reconheço em mim: toda vez que me mostraram um equívoco, minha tentação foi a de responder: “Pode até ser, mas...” Valer-se de defensivas é o caminho percorrido por tantos. Então, é importante começar bem cedo a vergar a espinha dorsal e deixar a soberba de lado. Tive a felicidade de conhecer pessoas admiradas em suas áreas de atuação profissional e prontamente dispostas a rever publicamente um conceito, uma postura, se fosse o caso. No terreno dos embates amorosos, há implicações maiores ainda. Ninguém gosta de ceder. Fica o casal no alto do púlpito buscando o autor de um famigerado engano qualquer. E assim o desgaste vai tomando forma, impedindo-nos de assimilar valiosa lição. Deve ser bem cansativo sustentar esse tipo de crença, a de que não precisamos reavaliar nada. Ora, tudo está em processo, em andamento, comumente nutrido por bons propósitos. Se tudo for visto com uma lupa, acabamos descobrimos alguma fissura. Antes ser seduzido pelo imperfeito, abandonando o sonho vão de algo irretocável.
O tempo vivido vai engendrando em nós a convicção de que tudo é edificado no campo do provisório. Penso aqui nas pessoas genuinamente religiosas, no quanto elas são naturalmente sábias neste quesito: fazem um mea culpa com louvável constância. Talvez movidas pelo medo de uma punição divina, mas a verdade é que a prática da contrição se revela invariavelmente salutar. Assume-se a necessidade de baixar a cabeça quando nos mostram que falhamos ao não dar o nosso melhor. O aprimoramento pessoal depende de fatores bem sutis, pois a emoção desempenha papel preponderante nesta jornada. Por fim, nada estará perdido se houver reflexão, análise e mudança. Convencer-se disso é encontrar um atalho para alcançar uma vida mais feliz.