A euforia é quase unânime: no futuro, trabalharemos em casa. Nada de perder horas no trânsito e submeter-se ao controle rígido de entrada e saída das empresas. Os méritos serão avaliados pela produtividade, pouco contará a soma do tempo passado no local. Liberdade, enfim! Vale lembrar: para a esmagadora maioria, a atividade profissional desempenhada é uma prisão da qual se festeja antecipadamente o dia em que será desnecessário a ela se subjugar. Os grandes entusiastas dessa nova modalidade pertencem à categoria dos que passarão os dois turnos (ou apenas um, ideal sonhado) em frente a uma tela de computador. Mas é importante continuar tendo em mente que não se constituirá em privilégio para todos: produtos precisam ser extraídos da natureza, manufaturados, transportados até chegarem ao seu destino final: o lar agora louvado à exaustão. Estaremos vendo só o lado positivo dessa equação? E ele realmente existe. Pais comemoram, depois dos primeiros meses da modalidade, uma convivência maior com seus filhos e até a boa surpresa de dividir as tarefas domésticas. Se você faz parte desse último grupo, mas posta no Instagram cada vez que pega um aspirador ou lava um prato, esse mérito é discutível. Portanto, parece cedo para celebrar. Explico.
Opinião
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