No belíssimo filme francês “O melhor está por vir”, uma das personagens diz, num discurso fúnebre, ao falar sobre um ser que lhe fora muito caro: A amizade tem algo carente no amor: a certeza. Senti-me profundamente tocado por essa afirmação. Nestes dias de abraços sendo uma reminiscência, não um gesto usufruído à larga, cabe refletir sobre a importância (a necessidade, mesmo) de termos ao lado alguém que nos compreenda e com o qual partilhamos alegrias e dores. Estou longe de desconsiderar aqui as criaturas com as quais vamos estabelecendo, ao longo da vida, pactos de comunhão amorosa. Precisamos desses suportes para evitar de nos abastecermos só do nosso eu. Mas, acima de tudo, o nutrir dos contatos está inexoravelmente ligado à presença de almas benfazejas, deixando-nos a convicção de sua permanência sempre próxima, independente das circunstâncias e do estado em que nos encontram emocionalmente. Vejo nelas a possibilidade de burilar os desacertos. Pois cabe aos mais verdadeiros sinalizar quando o caminho seguido flerta com os abismos. Vale lembrar: os amantes estão cercados pela dúvida, pois o desejo de posse e exclusividade assim o exige. Anda-se sobre uma tênue corda e perder o equilíbrio é extremamente fácil. Na solidez de um relacionamento construído com confiança e serenidade, sem o ciúme espreitando cada ato, percebemo-nos aquinhoados, habitando um mundo sugestivamente quase perfeito.
Opinião
Gilmar Marcílio: amizade
Um ouvido atento, colo nas horas de aflição, contentamento potencializado se dividido com quem nos é caro
Gilmar Marcílio
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