“Quem me dera aquela idade, sabendo o que sei hoje!”, diz a personagem do conto A segunda vida, de Machado de Assis. Desejo que permeia dez entre dez almas. Sonhamos todos, em algum momento, ter a vivacidade dos verdes anos, mas a experiência dos tempos de maturidade. Queremos o melhor dos dois mundos, ideal que não pode (e não deve) ser alcançado. Explica-se. Ao longo da trama, José Maria, que a protagoniza, vai tecendo considerações que tentam mostrar aos seus interlocutores como seria perfeita a existência que combinasse esses expedientes. Conversa com um, com outro e, ao encerrar a narrativa, descobre-se que o que nos está reservado, sem o ensaio prévio e a sabedoria acumulada, assim deverá permanecer. As razões são muitas e a mais plausível delas é que, aquinhoados pelo entendimento a priori, deixaríamos de nos entregar, por medo ou prudência, a grande número de experiências que, ao fim e ao cabo, se revelarão vitais para a construção da nossa personalidade. É o desconhecido, comprovadamente, que fornece o tempero, dando-lhe o gosto da expectativa, sem a qual tudo pareceria enfadonhamente repetitivo.
Opinião
Gilmar Marcílio: vivacidade e experiência
Gilmar Marcílio
Enviar email