Tantas vezes, equivocadamente, cremos que viver é ir gastando-se ao sabor das circunstâncias. Que as aprendizagens se fazem à revelia e a consciência é um apêndice secundário, exigindo uma entrega passiva, imobilizante. Quarenta ou cinquenta anos podem representar tão somente a corrosão do corpo e uma sucessão de relacionamentos que deixam a parca memória de episódios bons e ruins. Não precisa ser assim, claro, e a melhor forma de fugir dessa armadilha existencial é continuar se construindo lentamente, com olhar cuidadoso. Encontrar vai além de esbarrar no outro, uma simples troca de palavras ou contatos epidérmicos. Acaba por definir, em diversas situações, a maneira como nos portaremos doravante. A palavra vigilância ganha, em mim, quase a dimensão do sagrado. Não podemos esmorecer, sob o risco de sermos conduzidos por um senso comum anestesiante. A trajetória até se chegar à excelência é sempre individual, prescinde de manuais e é impossível ser copiada de alguém. Porém, cercar-se de pessoas sábias, que compõem seus dias com a serenidade que revigora a alma, sem se deixar atropelar pelas circunstâncias, é um bom exercício na depuração das ações, das mais banais às mais complexas.
Opinião
Gilmar Marcílio: construção
Quarenta ou cinquenta anos podem representar tão somente a corrosão do corpo e uma sucessão de relacionamentos que deixam a parca memória de episódios bons e ruins
Gilmar Marcílio
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