Em seu livro Meu pescoço é um horror, a roteirista e diretora de cinema Nora Ephron relata fatos divertidos (e alguns tristes) de sua vida. Sempre releio algum deles como uma lição filosófica. Ela conta sobre a perda de uma grande amiga, depois de um longo suplício após a descoberta de um câncer na língua. Ao chegar em casa, vinda do velório, resolve imergir por uma hora em sua banheira, para aliviar um pouco a dor que está sentindo. E começa a falar sobre um óleo de limão para banho que adora. Na embalagem, sugere-se o uso de uma tampinha. Mas, segundo ela, essa quantidade é absolutamente insuficiente, não serve para nada. Passa, a partir daquele dia, a usar quatro, pois lembra que também vai morrer (e pode ser bem antes do que imagina) e não quer que isso aconteça sem ter se dado esse prazer. Começa, então, a ter uma consciência maior sobre a imponderabilidade da existência. Como tudo é vulnerável e escorregadio, igual ao produto que tanto aprecia. E troca a economia pela generosidade. Consigo e com os demais.
Opinião
Gilmar Marcílio: óleo para banho
Aproveitar: é o verbo que deveríamos conjugar constantemente
Gilmar Marcílio
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