Descobri uma prática que minimiza meu sofrimento quando leio algo triste, que me deixa incomodado. Passei a colecionar alguns exemplares de revistas e jornais. Deixo-os envelhecendo e os esqueço por alguns meses. Então, vou até esse depósito onde guardo relatos que pareciam sumamente relevantes e... voilá! O que era uma questão de vida e morte passou a ser mera nota de rodapé. E assim é com quase tudo que nos ocupa horas tão preciosas. Tenho tentado, sobretudo, fugir de qualquer discussão que envolva política. É um campo muito suscetível e grandes amizades podem acabar por discrepâncias ideológicas. Vale a pena? Absolutamente não. Ao folhar algum periódico, sobretudo os de anos anteriores, vou percebendo que é inútil entrar num campo de batalha que logo, logo, será tomado por outros adversários. A briga é exclusivamente de quem a promove e responder às provocações apaixonadamente é o caminho mais curto para escantear a razão.
Prefiro a poesia, que é totalmente imune à passagem dos anos. Aliás, o efeito sobre ela costuma ser benéfico, depurando o que já se apresentava em estado de diamante. Presto atenção ao que acontece, mas distraidamente. Observo com senso crítico o que é colocado no centro das pautas. Mas não perco o sono com oscilações econômicas e muito menos com brigas entre líderes municipais, estaduais ou federais. Consumo pouco e me satisfaço permanecendo longo tempo em minha biblioteca. Sei que preciso participar da sociedade em que estou inserido, mas nunca vi alguém sair melhor depois de ter atacado com palavras ásperas quem considera seu oponente. Cercear a liberdade alheia é um ato de extrema violência e combater isso é uma obrigação de toda pessoa que pretende contribuir para que o planeta mude para melhor. Não tenho mais disposição para ficar na arena. Acho muito cansativo tentar blindar minhas ideias, acreditando que argumentos podem demover alguém de suas convicções pessoais. Aferramo-nos a elas como se fossem uma espécie de patrimônio que precisamos proteger a todo custo.
É bom lembrar que não há nada mais volátil do que as manchetes do dia. Não quero chegar à velhice arrependido por ter me debruçado sobre o que se revelou esquecível logo depois de ter preenchido páginas inteiras. Nem sempre consigo essa delicada proeza mental. Mas ao menos me proponho a deslocar para as margens o que tantos deixam sob os holofotes. Consumo com mais prazer o que pertence à ordem do eterno: a arte.
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