Devo fazer parte de uma minoria que não reverencia o deus maior do nosso tempo: a ambição. Sempre achei cansativo querer cada vez mais. Porque é assim que se dá: não há um patamar limite até onde almejamos chegar e, depois, pronto: é só usufruir o que foi amealhado. Qual! Somos, sem exceção, mas apenas em graus diferentes, suscetíveis às benesses que o poder nos garante. Por isso é preciso nos proteger contra nós mesmos, num gesto de heroísmo solitário para preservar o que há de melhor dentro de cada um: o espaço individual onde são feitas as verdadeiras escolhas. Quando nosso olhar insiste em capturar as coisas externas, deixa de pôr em prática a mais essencial das tarefas: o aprimoramento. Esse esforço quase além do humano deverá ter como único propósito a lapidação da própria alma. Talvez o mundo também melhore com esse propósito, mas será uma consequência, nunca a causa de se procurar. À maneira de um Montaigne, encerrado em sua torre, estudando incessantemente a si próprio, o homem verdadeiramente consciente de sua tarefa seguirá burilando os seus defeitos. É provável que a morte o surpreenda em meio a essa ou àquela atividade. Porém, não o desanimará, pois sabe secretamente que o que fica inconcluso não perde o seu valor. Terá aprendido que a grandeza sempre está na busca, não no resultado.
Opinião
Gilmar Marcílio: longe da ambição
Grandes podem ser aqueles que constroem uma cidade, mas igual estatura terá quem se dedicar a cuidar do seu jardim
Gilmar Marcílio
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