"Você já tem essa idade? Nossa, nem parece! Eu te daria, tranquilamente, uns dez anos a menos." Quem de nós já não disse isso a um amigo ou amiga, acreditando ser mais do que um elogio: a certeza de deixá-los envaidecidos. Demonstrar menos do que está escrito na certidão de nascimento passou a encher de orgulho o destinatário de tal deferência. Ter cinquenta anos e apresentar no rosto essas cinco décadas tornou-se algo a ser evitado. Se der para esconder ou disfarçar, perfeito. Cirurgias plásticas nem sempre dão conta disso, no entanto. Muitos passam a ser criaturas atemporais. Parecem estar entre os trinta ou setenta, um verdadeiro horror! O fato mais relevante, o de a quantas anda a nossa estética interior, raramente vem à tona. Se a aparência impressionar, ótimo. Afinal, tudo o que queremos é convencer. Pouco, né? O bem-estar e a renovação do gosto de existir, quando a sombra da velhice se insinua entre as horas, deveria estar na ordem primeira dos assuntos a nos preocupar. Não lembro da minha avó ou dos meus pais tocarem uma vez sequer nesse assunto. Eles eram bem mais fiéis aos ciclos juventude/maturidade/senectude do que nós. Dá muito trabalho (geralmente fadado ao fracasso) retocar uma imagem que, a despeito do resultado, tende invariavelmente ao declínio. A ideia da decrepitude não agrada a ninguém. Se der para postergar com sutileza, ok. Há um ponto em que é preciso simplesmente aceitar.
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Minha maior preocupação, atualmente, direciona-se em sentido contrário. Ando vasculhando com insistência o lado de dentro. Será que estou me transformando numa pessoa mais rígida, tentando justificar meus preconceitos? Estou mais ranzinza? Procuro só quem tem a minha idade para conversar ou consigo me relacionar com os mais novos e os mais velhos? Creio que este é um questionamento que nos ajuda a perceber se ainda persiste em nós o frescor tão típico que vemos nos jovens e que, com certo esforço, pode ser nosso companheiro enquanto houver prazer em usufruir o que nos é oferecido. Fico atento ao meu vocabulário, à quantidade de vezes em que rio e faço rir, à capacidade de aceitar o novo e, sobretudo, o quão curioso me mantenho em relação ao que se passa ao redor de mim. Não preciso aceitar tudo, mas também não quero ficar esbravejando só porque o mundo está andando mais rápido do que eu gostaria. Enquanto sentir prazer em me estar com pessoas que pensam de forma diferente, sei que estou no caminho certo. Alguma forma de juventude terei conservado.
Olho com certa reserva para quem se submete com frequência a um bisturi. Prefiro cortar de dentro pra fora. E sonhar que, chegando à provecta fase da vida, depois de uma proveitosa e divertida conversa, alguém me olhe e diga: Cinquenta e cinco? Nem parece!