Qual é o melhor tempo para aprender? Na juventude, quando os impulsos devoram os medos e nos empurram para a frente? Ou na velhice, quando a prudência, a grande aliada do bom senso, nos permite fazer as escolhas mais acertadas? É provável que exista um arco do conhecimento, com ascensão, auge e declínio. Os extremos de nossas vidas parecem reservados para tarefas distintas. É fato aceito que a maturidade é a época na qual mais se seleciona e as decisões pensadas nos concedem um grau maior de acertos. Mas talvez não seja sempre assim. Basta reparar no que se passa ao nosso redor para descobrir que aos últimos anos de nossas existências não está reservada a melhor cota de decisões. As razões são múltiplas e entre elas pode-se destacar o fato de que a experiência não é, necessariamente, um valor em si. Quem foi generoso outrora o será mais ainda no fim de seus dias.
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O egoísmo, da mesma forma, encontrará campo fértil para se espalhar. Além disso, é provável que nossa mente seja capaz de assimilar até um certo limite. Depois disso, será somente repetição. Pense no legado de pintores, filósofos, cientistas. Seus derradeiros anos representaram a depuração do que os moveu anteriormente. As raízes foram plantadas na terra desde há muito. Poucos têm uma iluminação tardia, deitados em sua cama de moribundos. Conseguirão, talvez, fazer aflorar o que esteve armazenado.Por isso é preciso trabalhar incessantemente. Observar com acuidade, ler como um ato religioso, encontrar os amigos como se cada vez fosse a última. Nutrir-se, sabendo que a fome será nossa companheira constante.
Onde está o tédio para quem permanece de olhos abertos? Quando o vento açoita meu corpo ou o sol queima a pele, refreio o ímpeto de reclamar e murmuro para mim mesmo: isso é bom, sinal de que continuo vivo. Aposto na grandeza desta manhã, deste momento. Tenho um gosto renovado por quase tudo que me cerca. Tento ser agradável, acolhendo, reservando os julgamentos para raras ocasiões. Como queremos ser entendidos se agimos em sentido contrário? Não há esgotamento para quem se interessa pela liturgia da alma humana. O ponto mais alto desse arco é o mérito por todo esforço, pelo empenho. As coisas findam e é preciso avistar esse adeus bem antes que os sinais o digam. Tudo o mais é mecânica, como se os “músculos” do cérebro ficassem cansados e já não respondessem ao que continua pulsando. Refletir, mas permanecendo em ação.
Desde cedo, ao alvorecer, quando o céu e a terra parecem se fundir num só.