A história da humanidade parece viver um ciclo contínuo de prosperidade e decadência, para depois tentar buscar algum tipo de renascimento. Um desses ciclos de progresso e desenvolvimento foi a Belle Époque, que ocorreu na Europa entre o final do século 19 e a primeira década do século 20.
A Belle Époque foi marcada por grandes avanços nas artes, na ciência e na tecnologia. Esses períodos históricos marcantes geralmente têm datas de início e fim que nem sempre são consenso entre os historiadores, mas ouso a arriscar que a data inicial da Belle Époque tenha sido a Exposição Universal de 1889, realizada em Paris.
Esta grande feira celebrava o centenário da Revolução Francesa, e seus expositores traziam ao grande público exemplos do progresso industrial e cultural, como o uso de eletricidade, exposições de máquinas, além das exibições de arte e dos pavilhões internacionais. O maior destaque foi a inauguração da Torre Eiffel, um símbolo da modernidade daquele tempo.
Durante cerca de 30 anos, o mundo ocidental testemunhou avanços na ciência e na tecnologia com invenções como o telefone, o rádio, o cinema e o automóvel, além de descobertas importantes na medicina e na física, como a Teoria da Relatividade de Einstein.
As grandes cidades viram o surgimento dos primeiros arranha-céus, de largas avenidas pavimentadas para os novíssimos automóveis, comércio pulsante, teatros, museus e galerias, não só na Europa: lugares como Nova York e Chicago, até mesmo nossa vizinha Buenos Aires e São Paulo se desenvolveram imensamente neste período.
É claro que um grande ciclo de prosperidade, infelizmente, não dura para sempre. A Belle Époque terminou oficialmente em 1914 quando eclodiu A Grande Guerra — na época, era impensável que haveria uma segunda, mas hoje sabemos que o impensável sempre pode acontecer. E antes mesmo de a Segunda Guerra Mundial começar, o mundo ainda passou pela Gripe Espanhola entre 1918 e 1919 e por uma crise econômica devastadora após o Crash da Bolsa dos Estados Unidos em 1929.
Eu sempre pensava no azar que teve uma pessoa nascida em 1900 que conseguiu curtir só um pouquinho da Belle Époque na infância para depois mergulhar em guerras, doença, crise econômica, carestia, medo durante quase toda sua vida adulta.
E aqui estamos nós. Cada vez mais não tenho dúvidas de que já vivemos a Belle Époque da nossa geração: ela foi breve, entre a Queda do Muro de Berlim em 1989, fim oficial da Guerra Fria, e o ataque terrorista às Torres Gêmeas em 2001.
Minha geração teve a imensa sorte de passar a adolescência num mundo relativamente tranquilo, próspero, com muitas inovações positivas (principalmente na tecnologia) e uma generalizada sensação de otimismo.
Isso não existe mais. Já passamos pela pandemia, há uma guerra em andamento, e a tecnologia parece ter virado um desserviço. E, para complementar o desastre, preste atenção ali fora: nem respirar ar puro podemos mais.