No último domingo, dia 26 de maio, caminhei cerca de 8 quilômetros até a Capela de Nossa Senhora de Caravaggio localizada na bela linha Tuiuti da minha cidade, São Marcos. Acompanhei a procissão que saiu da nossa Igreja Matriz, seguindo logo atrás da imagem de Maria e de Joaneta, a sofrida camponesa italiana que, em 1432 testemunhou a aparição. A fé cristã dentro da Igreja Católica é o canal que meus antepassados e a minha família escolheram para chegar ao insondável. Cada pessoa com sua crença deveria ter a consciência de que sua religião é um meio de ficar em paz com tudo aquilo que não conseguimos explicar, mas que sem dúvida é muito maior do que nossa pequena estatura humana.
Convivo e converso seguidamente com pessoas de várias religiões e credos distintos, amigos que frequentam sinagogas, outros amigos que frequentam mesquitas, gente que comunga com o etéreo no meio da natureza ou na beira do mar, outros em grandes espetáculos de música gospel ou pequenos cultos no porão de uma casa. Não importa: o que se ganha com a espiritualidade é não se sentir tão incomunicável. Toda pessoa que acredita em algo maior talvez não compartilhe os mesmos ritos e as mesmas escrituras sagradas, mas sem dúvida comungam de um sentimento de acolhimento, de pertencimento e de comunidade.
Por isso faz todo sentido o uso do termo “congregação”, que vem do latim congregare, que literalmente significa “reunir em um grupo” ou “ajuntar em um rebanho”. Essa ideia de juntar ou reunir está presente em todos os contextos em que a palavra “congregação” é utilizada, seja para um propósito religioso, social ou organizacional, ou as três coisas ao mesmo tempo como temos visto agora na reconstrução das cidades e das comunidades após a grande enchente.
Quando alguns conhecidos ateus me questionam com comentários desdenhosos “Onde está esse Deus que permite que uma tragédia assim aconteça?”, eu respondo que Deus está em cada voluntário, em cada pessoa que doou um pouquinho para quem ficou sem nada, seja um agasalho, uma garrafa de água ou um serviço ajudando na limpeza das casas. Até porque um dos preceitos mais importantes é que Deus nos deu livre-arbítrio: se parte da humanidade escolheu poluir, desmatar ou negligenciar a manutenção de estruturas que poderiam nos proteger da fúria da natureza, o que Deus tem a ver com isso? Se um homem decidiu desviar donativos em benefício próprio, onde está Deus nisso?
Mas, sem dúvida, as mensagens de caridade e de generosidade que Maria e seu filho Jesus Cristo nos deixaram movem a força de muitas mãos estendidas. A caminhada que fiz na Romaria de Nossa Senhora de Caravaggio foi justamente um momento de reflexão e de agradecimento por também ter, ao lado de muitos irmãos, essa força e a capacidade de ajudar os outros que agora precisam da congregação, seja ela qual for, evangélica, judaica, muçulmana, espírita, umbandista, budista ou católica, cada um com seu canal de comunicação com Deus.