Entre as muitas falas e declarações absurdas de autoridades e políticos nos últimos dias, uma que me deixou absolutamente indignada foi a de Simone Tebet na última segunda-feira. A Ministra do Planejamento e do Orçamento do governo Lula disse o seguinte: “Não é que só vai faltar dinheiro para o Rio Grande do Sul, o dinheiro vai chegar no tempo certo. Que não é agora, porque não tem nem o que liberar ainda porque nós não recebemos as demandas dos prefeitos”.
Como é que é? Agora não estamos precisando de verba? Agora não é o tempo certo? Nenhum prefeito está em rede social mostrando a calamidade de sua cidade e pedindo ajuda? Todo o combustível para os voluntários e seus veículos de resgate — 4x4, motos, jet-ski, barcos a motor, caminhões — é de graça? Como comprar um gerador sem dinheiro? Todos os alimentos e produtos de higiene para os abrigos ficarão mesmo sob a responsabilidade dos voluntários, das igrejas, das entidades para comprar e transportar? É isso, senhora ministra? Realmente estamos nós por nós mesmos? Para que enviamos bilhões em impostos a Brasília? Para que serve o Estado se na hora de maior urgência nos dá a entender que não é o “tempo certo”? Quem decide isso?
Na verdade, quem me acompanha neste espaço bem sabe que prego a existência de um Estado mínimo. O Estado mínimo não é a inexistência de um Estado, mas a existência de um Estado que cuide de suas obrigações junto à população, ou seja, que ofereça serviços de saúde, segurança e educação, além de salvamento e apoio em casos de tragédias como a que estamos enfrentando. Ao cuidar dessas obrigações, o Estado deve ter discernimento, rigor, critério, planejamento, competência e responsabilidade na administração do dinheiro do contribuinte.
Se agora não é o momento, qual seria a proposta da Ministra Tebet para ele, o “Depois”? Na verdade, o “Depois” dessa grande enchente catastrófica já está acontecendo: falta água potável, faltam medicamentos, falta energia elétrica, faltam estradas e mínimas condições de trafegabilidade. Mais do que tudo, faltam braços. Se não fossem as centenas de voluntários anônimos, de todas as regiões e de todas as classes sociais, quantos ainda estariam esperando por socorro? Quantos ainda estariam em cima de um telhado ou debaixo de escombros?
Toda tragédia, toda crise, sem dúvida, revela o melhor e o pior do ser humano e de seus líderes, mas acima de tudo escancara o despreparo e a ausência de planejamento para evitar que o clima em fúria continue destruindo nossas cidades e campos. Com raras e nobres exceções de prefeitos e prefeitas realmente empenhados em salvar seu povo e reconstruir suas cidades, o que estamos vivenciando é só mais uma amostra de como, na necessidade, é sempre o povo pelo povo, civil ajudando civil, voluntários como os jipeiros, jogadores de futebol e surfistas ajudando os bombeiros e os policiais mal equipados e mal remunerados pelo Estado.
[Continua na próxima quarta-feira]