Todos sabem que as paixões cegam as pessoas. Basta observar como alguém apaixonado é incapaz de enxergar os defeitos do objeto de sua paixão: tudo é lindo e maravilhoso até que a realidade bate à porta – e ela sempre chega, por mais que se tente tapar o sol com a peneira.
As paixões ideológicas funcionam exatamente assim: quem idolatra uma linha de pensamento, um líder ou um governo que segue determinada cartilha costuma ignorar os erros de suas lideranças e os equívocos de suas ideias. O mais grave de tudo isso é que, por causa dessa cegueira, deturpam-se fatos e até mesmo se defendem valores contrários ao que inicialmente pregavam.
O pior da paixão é que ela inevitavelmente parece estar entrelaçada com pouca inteligência e total falta de verdadeiro senso crítico. O apaixonado é um ser escravizado por uma idealização que se revela frágil, até mesmo ingênua, quando confrontada com o mundo real. Um exemplo disso é a queda de popularidade do atual presidente da república que, longe do seu atual cercadinho composto por um séquito de bajuladores e aliados de ocasião, não pode sair às ruas.
Estamos diante de uma grave crise econômica, da alta dos preços nos mercados, de impostos opressivos que não são revertidos em bons serviços públicos à população: são fatos, não são meras invenções da mídia. Contudo, ainda há quem acredite que exista algum tipo de tramoia de uma suposta “aliança internacional de extrema-direita” para prejudicar o líder supremo, o Rei Sol, o Painho que nos governa pelo terceiro mandato. Qualquer problema que temos hoje em nosso país não seria “culpa de Lula”, mas de uma “herança maldita”. É cômico observar que esse raciocínio só vale aqui para o Brasil, porque grande parte da militância lulopetista insiste que a pobreza atual na Argentina é culpa de Milei – que está no governo há poucos meses – e não do desastroso governo kirchnerista de Alberto Fernández dos últimos anos, apoiado justamente pelo PT.
Em poucos meses, o governo Lula já deu declarações e tomou atitudes que, por incrível que pareça, vão totalmente contra valores centrais pregados pela esquerda progressista liderada pelo Partido dos Trabalhadores. Um exemplo claro disso é esse flerte interminável com ditadores e regimes autoritários de um lado, enquanto usa e abusa da palavra “democracia” em seus pronunciamentos e propaganda de outro.
A verdade é que esse governo está totalmente perdido. E Lula parece descontrolado e destemperado. Nesta semana, humilhou seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo para “ao invés de ler um livro, perder algumas horas no Congresso e no Senado conversando”. Essa frase diz muito nas entrelinhas, mas acima de tudo demonstra um desprezo e um ranço pelo fato de Haddad ter algo que Lula nunca terá – o conhecimento, a ponderação, a coerência e a sensatez que adquirimos por meio do estudo. Contudo, os apaixonados por seu líder e pela ideologia que Lula diz representar, jamais reconhecerão isso.