Foi uma semana de acachapante derrota moral para quem prega um Estado forte em detrimento de mais liberdade para o indivíduo e para a comunidade organizada administrarem seus próprios recursos em vez de serem esmagados por uma alta carga tributária em troca de serviços ineficientes.
Aliás, a simbologia desse feito só mostra o quanto permanece vivo o espírito comunitário dos primórdios da imigração italiana aqui na Serra Gaúcha. Sem a força e o espírito engajado de cada cidadão, de cada família, de cada pequeno agricultor e comerciante, esses montes que hoje abrigam empresas gigantescas, laboratórios e centros de tecnologia que são um exemplo de desenvolvimento seriam apenas mais uma região subdesenvolvida de um país maltratado por seus políticos, governantes e burocratas de todo tipo.
O mais importante é que toda a cronologia dos fatos foi devidamente publicada pela imprensa e registrada pelas pessoas comuns em vídeos e depoimentos espalhados pela internet. Isso quer dizer que não será possível “reescrever” essa história para tentar puxar a brasa para o poder estatal, praticamente nulo nessa mobilização para construir a nova ponte. Para ser justa, ao menos o Estado teve a decência de não atrapalhar o processo com alguma tramoia burocrática e judicial. Livres das amarras perversas dos trâmites e labirintos obscuros das licitações públicas, a sociedade civil organizada obedeceu a lei e a ética, cumpriu os regulamentos de segurança e as exigências dos órgãos competentes para uma obra de tal magnitude, atendendo com urgência ao chamado de uma comunidade aflita por ter perdido sua principal via de transporte.
Se permanecessem à espera do Estado, os moradores de Nova Roma do Sul até hoje estariam sendo obrigados a depender do desvio que acrescentava mais de 70 quilômetros para acessar hospital, universidade e outros serviços essenciais na vizinha Farroupilha, além de arcar com os prejuízos no escoamento da produção agrícola e no frete para adquirir produtos para a indústria e o comércio. Na verdade, sob a condução e gerência de alguma “superintendência” estatal, vai saber quando realmente essa ponte estaria disponível?
É lastimável que não possamos realmente contar com o Estado, e nem sempre é falta de vontade política de quem nos governa, seja do governador ou dos prefeitos. O problema são as entranhas da administração pública, a morosidade em hierarquizar o que é realmente importante e urgente e o que não é, a sanha de certos servidores públicos em primeiro garantir seus polpudos salários, a corrupção que corrói as finanças. Nossos impostos são cobrados e raramente voltam para nós como serviços prestados com eficiência e agilidade. Melhor mesmo é tomar as rédeas da nossa governança e fazer acontecer. Parabéns, cidadãos de Nova Roma do Sul e de Farroupilha, parabéns comunidade da Serra Gaúcha.