Uma falsa polêmica que vira e mexe aparece nas redes sociais é a indignação de algum jovem — geralmente alinhado com a esquerda romântica latino-americana — dizendo que é absurda a exigência da língua inglesa para uma vaga de emprego. Transcrevo abaixo um trecho de um post bem controverso (sem o nome da autora, porque minha intenção aqui não é expor ninguém, mas debater a questão da importância de uma língua estrangeira no currículo):
"Uma opinião minha! Vejo muitas vagas pedindo inglês para nunca usar... Virou critério de eliminação. E automaticamente, as escolas ou professores particulares estão cobrando valores absurdos apenas por terem uma vivência no exterior de curto prazo ou muitas vezes só um curso nas escolas daqui mesmo.”
A autora do post — que se apresenta como "consultora de carreira" — demonstra indignação porque é exigido inglês fluente para vagas em que a língua inglesa sequer será usada na rotina de trabalho. Na verdade, como "consultora de carreira", ela deveria saber que quem fala um segundo idioma certamente também tem uma série de habilidades e traços de personalidade em decorrência disso. Profissionais bilíngues geralmente são mais comunicativos, estão mais abertos a novas ideias e a novas culturas, demonstram maior respeito pela diversidade e, inclusive, demonstram maior domínio da língua materna.
Ser bilíngue é ter mais ferramentas para se comunicar com o mundo. Na era digital, qualquer assunto está a um clique de distância desde que você seja capaz de compreender o que está escrito ou o que é dito. Contudo, mesmo com os avanços significativos do Google Tradutor e do ChatGPT — hoje é possível ter uma boa noção do conteúdo dos principais portais internacionais de notícias, mesmo que haja alguns errinhos no texto traduzido —, nada substitui a autonomia e a liberdade de poder se comunicar em mais de uma língua. Sendo o inglês a língua franca nos dias de hoje, que profissional qualificado não tem interesse em aprendê-lo? Falta tempo? Falta motivação? Ou é pura birra, ranço, antiamericanismo infantil, síndrome de vira-lata ou só preguiça de estudar?
Aproveitando a menção à "vivência no exterior", há dados que comprovam os imensos benefícios de viajar e de entrar em contato com outras culturas, outras formas de organização da sociedade. É impressionante como há muitas pessoas no mundo corporativo que não se importam em gastar milhares de reais em ternos, sapatos, cabelo e maquiagem para ter uma "aparência de sucesso" e esquecem o mais importante: seu cérebro. Os anos 1980 e a cultura da imagem foram sepultados — ainda bem — pela era da informação. Ninguém se sustenta hoje num bom emprego se não tiver conteúdo. Numa live recente que fiz com uma profissional de uma renomada empresa multinacional aqui de Caxias do Sul, ela afirmou com todas as letras: “Hoje vale mais saber outro idioma do que ter uma graduação. Não adianta muito ter ensino superior completo se não souber se comunicar com o mundo”.