Há um mês, a Amada Cozinha Café & Cucina deu um grande salto em sua trajetória: após sete anos de mercado, inaugurou o novo espaço, junto ao coworking Colavoro Sanvitto, situado na Avenida Júlio de Castilhos, 1.989, Centro de Caxias, num investimento de R$ 200 mil que gerou 10 empregos.
Mais do que dar vazão ao potencial de crescimento, a casa quer imprimir seu conceito de “restaurante do azeite”, o que significa que as receitas saudáveis são preparadas com apuro técnico e exclusivamente com azeite de oliva extravirgem.
Nos bastidores dessa estratégia está a sommelier de azeites Maria Beatriz Dal Pont, que, ao lado da filha, a chef de cozinha Carolina Dal Pont Branchi, consolida o sabor de uma gastronomia que valoriza os pequenos produtores orgânicos regionais.
Quem dita o cardápio é a sazonalidade dos insumos nas opções de almoço executivo, com sugestão de prato do dia, além de lanches, chás e cafés.
A nova estrutura ampliou a capacidade de 20 para 50 lugares à mesa. A seguir, entrevista concedida por Maria Beatriz Dal Pont, professora aposentada da UCS, ao Pioneiro:
Como está sendo a receptividade da Amada Cozinha ao novo endereço?
Muito boa. Nossos clientes tradicionais nos acompanharam no novo endereço e conquistamos novos. Muitas pessoas vêm nos visitar por indicação ou movidas pela curiosidade de ver a Casa Sanvitto por dentro e conhecer o restaurante, e acabam clientes.
Qual a previsão de crescimento em 2019?
Com a mudança para o novo local, quase triplicamos o número de lugares. Com a localização, que também é favorável, e a ampliação do horário de atendimento para café e chá da tarde, pretendemos aumentar quatro vezes o faturamento em relação ao primeiro semestre do ano.
Qual a média de refeições servidas diariamente?
Entre 60 e 70 refeições, mais lanches e cafés.
Como criar uma gastronomia com conceito?
O conceito tem de estar dentro de ti. Não criamos um conceito, externalizamos nossa ideia de comida como a entendemos e como pensamos que uma refeição deve ser feita e servida. Estamos em constante diálogo para criar novos pratos e sabores. Temos princípios que seguimos desde antes da criação da Amada Cozinha, que são valores familiares e pessoais e que acabaram passando para o negócio.
O que representa a experiência de dividir o negócio com a filha?
É tudo de bom. Um aprendizado constante. Minha filha é o presente e o futuro, eu sou o presente e o passado. Carol traz a juventude, a leveza e a delicadeza à gastronomia, aos pratos que servimos. Ela administra todo o negócio no dia a dia. Eu estou junto, acompanho, opino, colaboro, mas nem sempre estou presente. Encontramos um equilíbrio, e trabalhamos pelo mesmo objetivo, que não é só econômico-financeiro. Estou muito feliz com o sucesso da Amada Cozinha.
Como avalia o setor gastronômico em Caxias?
Caxias é uma cidade em que podemos identificar três fenômenos gastronômicos que a distinguem no contexto da região e do país: o galeto, o bauru e o xis. Cada um deles merece uma análise demorada, porque se desenvolveram aqui, criados por pessoas da cidade, que podem ter se baseado em outras propostas já existentes, mas que aqui assumiram um caráter especial e diferenciado. O galeto é um deles: fenômeno de restaurantes de um só cardápio. Imagina servir há 40, 50 anos a mesma sequência de pratos, com a mesma qualidade, o mesmo sabor e com muitos clientes que continuam a prestigiar a proposta? Eu diria que não se trata de uma questão gastronômica, mas cultural. Espero que essa tradição não acabe nunca, que as novas gerações assumam e levem adiante esses restaurantes fantásticos e de comida de raiz, boa e atemporal. O bauru, então, é outra criação caxiense, muito diferente do sanduíche também chamado de bauru e criado em São Paulo. Aqui, o bife vem separado do pão. Todos sabem onde ir para comer o bauru, com maior frequência à noite. É a comida informal, rápida, saborosa, da turma do futebol, dos amigos, das famílias, com clientela firme e forte, de pai para filho. O xis, esse sim, não tem mais nada a ver com a versão original, o cheeseburger americano, de onde vem seu nome.
Mas Caxias está bastante cosmopolita do ponto de vista gastronômico?
Sim, temos outros restaurantes: pizzarias, bufês a quilo, asiáticos, com destaque aos japoneses que chegaram e se multiplicaram de forma rápida, naturais, vegetarianos. Houve em Caxias, ainda, na esteira da Escola de Gastronomia da UCS, uma onda de restaurantes gastronômicos, com propostas autorais, alguns se mantiveram, outros fecharam, se transformaram. E, hoje, temos a Amada Cozinha, que é um restaurante diferente, com comida boa, feita com amor, com ingredientes vindos de fornecedores locais, com uma proposta autoral, com leveza, sabor e personalidade. Um restaurante que adotou o azeite de oliva extravirgem fabricado no Rio Grande do Sul como ingrediente, como complemento aos pratos e como diferencial. Todo o cardápio é harmonizado por mim, com diversos tipos e variedades de azeites extravirgem. É uma oportunidade inclusive para as pessoas degustarem azeites e saber qual deles se adapta ao seu paladar, antes de adquirir. Dá para sentir diariamente a diferença que um azeite extravirgem traz ao paladar, ao sabor do prato, à digestão e à satisfação de nossos clientes.
Quais os desafios ainda enfrentados?
Os desafios são muitos e são eles que nos movem a superá-los. Existem alguns que são autoimpostos, outros vêm de fatores sobre os quais não temos nenhum controle. Fazer um bom trabalho, manter a qualidade a um preço justo, controlar custos, prestigiar os fornecedores locais, usar produtos orgânicos quando possível, dar força para os pequenos produtores comprando seus produtos e divulgando-os, servir apenas vinhos da Serra Gaúcha em primeiro lugar e só brasileiros para mostrar o quão bons são nossos vinhos e espumantes, ser reconhecido como o restaurante do azeite de oliva extravirgem pelos clientes, manter nossos projetos de crescimento, desenvolver cursos e workshops, continuar com nossos eventos, propondo-os prioritariamente em nosso espaço e, principalmente, ter muita crença que nosso trabalho pode superar as crises econômicas e políticas. Para finalizar, ganhar dinheiro suficiente para termos uma vida digna e segura.
E as conquistas?
Foram sete anos muito intensos desde o início da Amada Cozinha, com muito trabalho e muita crença na nossa proposta gastronômica. Lembro ainda do nosso primeiro coquetel na antiga loja Forum, do Shopping Iguatemi. Apresentamos um coquetel temático, totalmente com base em legumes, verduras e frutas, com inspiração na Tropicália Urbana. Foi um sucesso! Decretamos o fim dos coquetéis à base de frituras, e até hoje a Amada Cozinha não usa frituras em nenhum prato que serve. Mudamos, novamente, ao propormos as Mesas Mediterrâneas, com um mix de antepastos, carnes, legumes, verduras, preparadas com base na tradição italiana de comida mediterrânea, com muito azeite de oliva. Inovamos nos sucos naturais diferenciados, nas sodas italianas, nas sobremesas com cara de casa de avó. Nosso primeiro restaurante, com 23 lugares, pequeno, se transformou num sucesso, nossos clientes, muitos deles, viraram amigos de tanto que iam na Amada fazer suas refeições. Talvez eles sejam a nossa maior conquista: as pessoas que compreendem e amam nossa gastronomia. O novo local, junto ao Colavoro Sanvitto, foi uma conquista muito importante para nosso negócio crescer. Encontramos na proposta da família Sanvitto Andreazza em trazermos nossa gastronomia para a Casa Sanvitto a oportunidade ideal para juntarmos a forma (a casa, sua beleza, tradição, o espaço e sua decoração) ao conteúdo (nossa proposta gastronômica e nossa visão sobre comida e bebida) inserido num contexto maior, em que a arte, o design, a moda, a decoração, o paisagismo dão moldura ao conceito de estilo de vida e de bem viver.
Como é a rotina de alguém que lida com uma área tão complexa quanto a alimentação?
Muito trabalho, dedicação e, principalmente, ter o senso de hospitalidade dentro de si. Considerar que servir os outros é bom e importante. Ter firme propósito, não esmorecer, saber que a gente trabalha para que as pessoas possam desfrutar e se divertir, não se importar em trabalhar nos finais de semana, à noite, ter paciência para atender a todos com simpatia e bom humor. A rotina começa cedo e termina tarde. A complexidade do negócio se dilui quando há formação técnica forte, equipe competente, coesa e profissional, acesso a bons insumos, equipamentos adequados e tecnologicamente em dia e, principalmente, muito amor ao que se faz, como é o nosso caso.
A equipe pode ser reforçada?
Sim, ainda não completamos a equipe que precisamos. Existem algumas vagas em aberto, na parte administrativa, estamos procurando selecionar pessoas que entendam e abracem a nossa proposta.
Há planos de expansão do negócio?
Sempre há planos. No momento, é consolidar esta fase que recém começamos. Temos muitas ideias, mas nosso foco agora é a Amada Cozinha, seu cardápio, aperfeiçoar o serviço, ampliar o treinamento, sempre com foco no cliente e no fortalecimento da nossa visão sobre comida e sobre o negócio.