
A tragédia que aconteceu na escola João de Zorzi na última terça-feira (1º) disparou um debate fundamental sobre o clima nas escolas caxienses e os reflexos no processo de educação. Com a violência no ambiente escolar exposta de forma explícita e com as mais variadas reações sobre o caso, confesso que me incomoda muito quando ouço alguém dizer que foi um fato isolado.
Uma tentativa de assassinato contra uma professora dentro da sala de aula é um ato incomum, que felizmente ainda não acontece com frequência. Mas sinto, já há alguns anos, a tentativa (em geral de autoridades) de negar que o ambiente escolar passa por sérios problemas. E quando alguém classifica um caso como o da semana passada de fato isolado, fico com a nítida impressão de que novo estão tentando tapar o sol com a peneira.
Não, não foi caso isolado. Foi um ato cruel, incomum e extremo, sim, mas que é consequência de um clima de violência e insegurança generalizados, e que já poderia ter acontecido há muito tempo. No susto, após o ocorrido aumentou-se a presença dos órgãos de segurança em frente às escolas municipais de Caxias. Somente no primeiro dia, três alunos foram flagrados com facas em pontos diferentes, e um dos artefatos, pasmem, estava com uma menina de 11 anos. Pode existir sinal maior de um sistema com sérios problemas?
Vivemos tempos contaminados por radicalismo, intolerância e individualismo, e é impossível imaginar que isso não se refletisse nas escolas. As pessoas que estão ali são produtos dessa sociedade, e vão transferir seus males para aquele ambiente.
No entanto, justamente por ser previsível que isso acontecesse, as medidas de prevenção e contenção deveriam ser muito mais presentes, e a avalanche de depoimentos de professores e pais relatando os mais variados tipos de desrespeitos e ameaças só vem para confirmar um problema que se arrasta há anos. Não há soluções fáceis ou mágicas, e muitas questões estão fora do alcance de um município. Mas há uma série de providências que, espera-se, fiquem como consequência deste triste episódio.
A primeira delas é fazer, de forma muito mais efetiva, a segurança das escolas. Debate-se tanto o papel da Guarda Municipal, e de que forma ela melhor poderia contribuir mais com a cidade. Não tenho dúvida que uma as principais missões a ser atribuída (se não a principal) deveria ser esta, que até é feita atualmente, mas de forma muito precária. Ampliar consideravelmente o papel da GM na patrulha escolar, com uma presença realmente constante e efetiva, seria um bom começo.
Nesse contexto, ações não muito simpáticas, como a revista em mochilas, também precisa ser levada em consideração. Não tenho dúvidas que, em um mundo ideal, não deveríamos ter revista em mochilas, pois estas deveriam estar carregadas somente de livros e afins. No entanto, vivemos uma situação diferente, e não podemos fugir da realidade. A própria secretária de Educação defendeu esta medida publicamente, e espero que mantenha esse posicionamento.
Assim como defendo ações de segurança urgentes e mais imediatas, também não tenho dúvidas de que ações educativas e de longo prazo também são fundamentais. Embora estejam, em tese, operando, a efetividade das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves) tem sido contestada por pais e professores. É urgente recuperar a atuação dessas instâncias internas e criar outras, restabelecendo um clima de respeito, especialmente à figura dos professores.
Aliás, as famílias também precisam entender que fortalecer o papel do educador é fundamental para o futuro dos próprios filhos, e que os pais e mães não podem ser um fator que desestabilize isso. Isso vale, inclusive, para as escolas particulares, onde professores convivem, cada vez mais, com a imposição do clima do “me obedeça, pois eu pago seu salário”.
Enfim, há um mar de coisas para resolver em relação à educação e à sociedade, e não vai ser fácil. No entanto, negando que temos sérios problemas e que a tragédia dessa semana é consequência disso, ficará ainda mais difícil.