
Desde 2016, o mês de abril se tornou o marco para conscientização, prevenção e combate à cegueira no Brasil. Causada por doenças que podem ser prevenidas ou tratadas para reverter o quadro, o mês chama a atenção para cuidados básicos e preventivos para a visão.
Em Passo Fundo, a estimativa é de que existam pelo menos 1,8 mil pessoas com algum grau de deficiência visual, conforme a Associação Passo-fundense de Cegos (Apace). As principais causas, conforme o diretor técnico do Hospital de Olhos Lions, Carlos Ricardo de Camargo Ramos, são catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e a retinopatia diabética.
Em todos os casos, consultas médicas de rotina são essenciais para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo a fim de evitar uma possível propensão à doença. Para pacientes com diabetes, o indicado é que as consultas se tornem mais frequentes a partir dos 40 anos, para serem diagnosticadas mais cedo.
— Essas doenças acontecem mais em idosos. No caso do glaucoma, a maior causa de cegueira, a doença normalmente está na família e, se tratada preventivamente, conseguimos barrar sua evolução — explica Ramos.
Na cidade, há procedimentos que devolvem ou barram o desenvolvimento da cegueira. Somente no ano passado, foram 10 mil procedimentos realizados no Hospital de Olhos: 3,1 mil de cataratas, 2,1 mil de glaucoma e outros 4,85 mil de retina.
— No caso da catarata, a cirurgia consegue devolver totalmente a visão. No glaucoma, que a pessoa perde o campo de visão, e enxerga com se tivesse olhando dentro de um canudinho, a gente consegue tratar para evitar que a doença aconteça. E na retinopatia, se houver tratamento, elas não progridem ou não existem, se descobrirmos antes — finaliza o diretor técnico.
Quem convive com a doença
Mesmo que comum em idosos, o problema da cegueira também acomete pacientes de todas as idades. Um dos procedimentos de correção realizados em Passo Fundo no ano passado trouxe de volta a visão da Evelyn Natasha Pinheiro da Rosa, 17 anos.
A jovem foi diagnosticada pela equipe do Hospital de Olhos Lions com catarata avançada causada pela diabetes. Sem relatar aos pais que o problema se agravava, ela chegou na emergência da entidade já sem enxergar, vendo apenas um borrão. Dois procedimentos foram realizados em outubro e novembro do ano passado, devolvendo o poder de enxergar aos dois olhos.
— Eu não estava com muita esperança de voltar a enxergar. Mas com o apoio da equipe deu tudo certo, preciso usar apenas um óculos para poder ver de perto — declara a jovem.
Quem convive com o problema desde o nascimento é Everton de Souza, 49 anos, vice-presidente da Associação Passofundense de Cegos (Apace). Ele nasceu com glaucoma e desde muito pequeno passou por cirurgias para tentar reparar o fechamento do canal lacrimal.
Desde os seis meses até a adolescência, foram procedimentos de catarata, cirurgia de descolamento de retina e úlcera de córnea. Mesmo com a sequência de tratamentos, Everton desenvolveu uma grande sensibilidade à luz, o que faz com que a visão dele chegue a apenas 8%. Convivendo com o problema desde o nascimento, ele entende o mês de abril como uma forma de lutar pela valorização das pessoas cegas:
— Sabendo que as barreiras são externas, a gente aprende a conviver com as limitações do mundo. Temos barreiras para pegar um ônibus e atravessar as ruas e dependemos da ajuda das pessoas. Acredito que a importância dessa data é também para nos valorizar, lembrar que primeiro temos nossas potencialidades, somos sujeitos comuns e, depois disso, vem as nossas limitações — resume.