Em 2022, Passo Fundo emitiu 639,2 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera — o maior volume em 20 anos. O número representa um crescimento de 267% ao longo das últimas duas décadas. Em 2002, o volume de emissão era de 174 mil toneladas.
Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima.
A taxa de emissão coloca Passo Fundo como a cidade das regiões Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul com o maior volume de emissões de gases de efeito estufa. No Estado, o município ocupa a 38ª posição (confira abaixo).
Quem puxa os dados é o setor de energia, que engloba o consumo de eletricidade e combustíveis de veículos automotores, residências e indústrias, por exemplo. Pelo menos 61,2% dos gases poluentes emitidos são desse setor. Nas subdivisões, o transporte é o maior poluidor por larga margem (91%).
— Isso está muito atrelado ao transporte de passageiros e de carga. Algumas estratégias clássicas são boas formas de reduzir as emissões, como a expansão do transporte público. Além disso, Passo Fundo tem melhorado a estrutura para ciclistas e pedestres — disse a engenheira e coordenadora do Green Office da Universidade de Passo Fundo (UPF), Luciana Londero Brandli.
Depois da energia está o setor de resíduos, com 18,8% das emissões da cidade. Nesta seção, a maioria dos poluentes (69,4%) deriva da disposição final de resíduos sólidos, enquanto 28% são fruto do tratamento de esgoto sanitário.
Juntos, os dois setores representam 80% da poluição em Passo Fundo. Em menor escala aparece a mudança de uso da terra e floresta, ou desmatamento, com 10,1% e agropecuária, com 9,9%.
Conforme Brandli, o problema da destinação dos resíduos começa no lixo individual da população. A baixa aderência ao processo de separação e poucos locais de instalação dos contêineres, por exemplo, contribuem para a dificuldade na reciclagem dos itens.
— Existem iniciativas de separação dos resíduos orgânicos para transformá-los em compostagem, o que pode virar adubo ou gerar energia, mas tudo começa na separação do lixo. É importante que se pense na cidade reduzir o seu carbono e também de compensar o que ela gera, que é a lógica de uma cidade carbono neutro — acrescenta.
38ª posição no RS
Apesar de ser a cidade com a maior emissão de gases poluentes entre os municípios das regiões Norte e Noroeste, Passo Fundo ocupa a 38ª posição do ranking que engloba as cidades gaúchas (veja abaixo).
O primeiro lugar do levantamento ficou com Candiota, município de 10,7 mil habitantes da região da Campanha, que emitiu 4,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2022. A cidade é sede de usina termelétrica movida a carvão, uma das fontes de energia que mais poluem.
Em seguida estão Piratini — que possui uma usina termelétrica movida a biomassa — e Canoas, na Região Metropolitana. As cidades lançaram 3,5 milhões e 2,9 milhões de toneladas de gases de efeito estufa à atmosfera cada.
Porto Alegre aparece na sexta colocação enquanto o sétimo lugar é destinado à categoria "Não alocadas" — ou seja, o volume de emissões que o levantamento não conseguiu relacionar com nenhum município gaúcho em específico.
A nível Brasil, Passo Fundo tem um patamar de poluição semelhante a outras cidades de mesmo porte, como Criciúma (SC), Araçatuba (SP) e Abaetetuba (PA). Em comum, todas têm em média 200 mil habitantes.
Motivo de poluição difere do RS
Também chamam a atenção as diferenças na origem das emissões de gases poluentes dentro do RS. Enquanto em Passo Fundo a maior fatia vem do transporte, no Estado a agropecuária aparece no topo dos motivos da poluição, com esse setor sendo responsável por 43,4% das emissões.
Em seguida vem o desmatamento, com 29,8%, e só então a parcela de energia, com 21,8%. Confira abaixo:
O dado das remoções, também observado na plataforma, diz respeito à compensação desses gases poluentes. Do total gerado em emissões, 29,4 mil toneladas foram "abatidas" seja pelo plantio de vegetação ou regeneração natural. O número, porém, ainda é baixo, conforme aponta o coordenador do Seeg, David Tsai.
— Isso representa a vegetação sendo recuperada em áreas degradadas, mas o valor não chega a compensar. Podemos ver que houve uma queda significativa no desmatamento de 2010 para cá, com emissões líquidas negativas. Ou seja, o desmatamento está mais lento do que a recuperação de vegetação secundária. Não quer dizer que estamos confortáveis, mas está mais equilibrado — reitera.