Os advogados de acusação e defesa das partes envolvidas no caso de triplo homicídio devem pedir a anulação do júri encerrado na quarta-feira (14) em Passo Fundo.
Na decisão da Justiça, um dos réus, Luciano Costa dos Santos, foi condenado a 44 anos de prisão por duas das três mortes do caso. Já a ré Monalisa Kich foi absolvida das acusações.
No crime, três pessoas da mesma família foram mortas asfixiadas dentro de casa. As vítimas eram Alessandro dos Santos (35), sua filha Kétlyn Padia dos Santos (15) e a tia da adolescente, Diênifer Padia (26).
Os réus responderam pelo homicídio de Diênifer por motivo fútil e emprego de asfixia, além dos dois homicídios — de cunhado e sobrinha. Nenhum deles foi condenado pela morte de Diênifer.
A decisão de absolver Luciano por uma das três mortes é vista pelos advogados como uma contradição. Ambos os lados entendem que pode ter acontecido um erro na votação dos jurados e este será um dos motivos que sustentará a anulação do júri de Luciano. A defesa de acusação também deve pedir anulação da absolvição de Monalisa.
O que diz a defesa de Luciano e Monalisa
Representada pelo advogado José Paulo Schneider, a defesa entende que houve uma “incongruência” na votação dos jurados, uma vez que o júri absolveu Luciano pela morte da principal vítima — Diênifer.
Entre as hipóteses que levaram a essa decisão, o advogado entende que pode ter acontecido um erro de votação ou no entendimento dos jurados quanto à pergunta do juiz no momento de tomarem suas decisões.
— É uma análise muito complicada. O jurado é soberano, mas para nós é difícil entender. Quando eles votam pela absolvição de Luciano na morte de Diênifer, mas o condenam pela morte de Kétlyn, é preciso refazer a votação, pois há uma incongruência. E ao refazer, eles mantiveram a condenação. Então podemos estar diante de um erro “de mão” na votação ou algum jurado não entendeu a pergunta — afirmou Schneider, que defendeu os réus.
Com o resultado, a defesa pedirá a anulação do julgamento de Luciano.
— Buscaremos um novo júri porque acreditamos que ele (Luciano) deva ser absolvido, tanto que conseguimos fazer isso em relação à principal vítima. O caso não está elucidado e ainda há detalhes a serem revelados. A decisão de condenação do réu Luciano precisa ser revista e buscaremos a anulação — pontuou.
O que diz a defesa da família das vítimas
O advogado que representa a família das vítimas, Gustavo da Luz, afirmou que a assistência de acusação recebeu o resultado com surpresa e que também deve pedir a anulação do julgamento tanto de Monalisa quanto de Luciano.
— Nosso entendimento é de que houve uma contrariedade na decisão e infelizmente vai fazer com que ele precise ser refeito. Entendemos que se trata de um fato único, então vamos recorrer da decisão buscando a anulação do júri de todas as absolvições — aponta Gustavo.
A defesa também entende que houve um erro quanto a decisão do júri de absolver Luciano de uma das mortes e Monalisa das três:
— É muito difícil sabermos o que de fato aconteceu. Uma suposição minha é de que houve um erro na primeira absolvição de Luciano. Pode ser que algum jurado tenha errado no início e quis voltar atrás votando pelas duas condenações seguintes — afirmou.
Questionado, o Ministério Público afirmou que vai recorrer da decisão do júri a fim de aumentar a pena em relação aos outros dois homicídios (de Kétlyn e Alessandro) e da absolvição de Luciano sobre a morte de Diênifer.
O que diz a denúncia do Ministério Público
A investigação do MP apontou que o crime se deu por um relacionamento extraconjugal que Eleandro Roso teve com uma das vítimas, Diênifer, e resultou em um filho. Ele e sua esposa, Fernanda Rizzotto — que está foragida — foram os mandantes do crime motivados pela traição e nascimento da criança.
O irmão de Fernanda, Claudiomir Rizzotto, teria ajudado o casal ao oferecer recompensa pela morte de Diênifer ao ex-policial militar Luciano Costa dos Santos — um dos réus do júri recente. Conforme a denúncia do Ministério Público, Luciano seria o responsável por contratar os dois homens que invadiram a residência e mataram a família.
Já Monalisa Kich, companheira de Luciano, teria entrado em contato com Diênifer pela internet e simulado o interesse em um aparelho que ela estava vendendo para conhecer a casa da vítima e passar as características do imóvel ao marido.
No dia do crime, os executores contratados — não identificados até o momento — fingiram estar interessados em comprar móveis anunciados por Diênifer na internet e combinaram horário para buscar os objetos.
Ao chegar no local, por volta das 21h, renderam as vítimas e as estrangularam utilizando lacres de plásticos. A denúncia ainda aponta que o cunhado e a sobrinha de Diênifer foram mortos como queima de arquivo, para que o crime não tivesse testemunhas.