
O tempo médio que os trabalhadores gaúchos permanecem empregados diminuiu nos últimos anos: dados do Novo Caged apontam que, em 2024, os profissionais ficavam, em média, dois anos e três meses nos cargos — quatro meses a menos que em 2022. Entre os profissionais de 18 a 24 anos, a média é de nove meses em cada cargo.
Especialistas apontam que há um fator geracional para a troca constante de trabalho — movimento conhecido como job hopping. Pessoas mais jovens têm a tendência de pular mais facilmente de um trabalho para outro na comparação com funcionários mais velhos, na faixa dos 50 a 60 anos, por exemplo.
Em Erechim, no norte gaúcho, esse cenário de rotatividade é comum. Em uma indústria de cadeiras de escritório, a dificuldade de reter trabalhadores a longo prazo é constante.
— Tem gente que fica três meses, outros dois — resumiu Gilmar Cavaletti, vice-presidente da indústria.
O empresário lembra um episódio em que o funcionário foi embora após meio turno do primeiro dia de trabalho:
— Ele chegou, almoçou, saiu do almoço e foi embora. Nem voltou mais à tarde.

A dificuldade de retenção e a necessidade de trabalhadores fez com que a empresa criasse medidas para manter os funcionários na operação — e, sobretudo, engajados.
Os gestores da indústria passaram a oferecer bônus através de participação nos lucros — se as metas fossem batidas, no final do ano os colaboradores receberiam parte do que foi faturado ao longo dos meses. Em 2024, em comemoração ao aniversário da empresa, se as metas fossem alcançadas, cada colaborador receberia cinco vezes o próprio salário.
Deu certo: logo depois da divulgação, a empresa recebeu mais de 3 mil currículos.
— Desses, a gente tirou o que precisava e a grande maioria se mantém aqui até hoje. Para reter esses funcionários temos outros planos também, mas quando se fala em dinheiro mexe com o brilho de todo mundo, e aí o pessoal vem — disse o vice-presidente.
Em Passo Fundo, uma indústria de materiais de construção passou a investir mais para reter a mão de obra. A companhia oferece benefícios para atrair no recrutamento e atrair talentos:
— Hoje em dia está bem desafiador, tanto que começamos uma política de custeio de curso de graduação, por exemplo — disse a gerente de Recursos Humanos, Iara Renner.
Esforço coletivo

Enfrentar a rotatividade é algo que demanda esforços e mudanças da empresa e também do colaborador. Segundo o consultor em Gestão de RH, Lessandro Sassi, as companhias precisam de processos organizados e bem estruturados da gestão à remuneração.
— O primeiro caminho é a própria empresa olhar para a estrutura, a organização, o processo e recursos de trabalho. Quando tem isso bem organizado, diminui a probabilidade de que as pessoas se sintam desmotivadas. Outro ponto que as empresas podem investir é a capacitação das lideranças. O terceiro é, obviamente, o investimento na capacitação e na remuneração competitiva para o mercado de trabalho — aponta o especialista.
Os funcionários, normalmente mais jovens, precisam analisar no curto, médio e longo prazo quais são os objetivos de carreira. A troca constante de emprego, conhecida como job hopping, pode ser prejudicial para o próprio profissional.
— Do ponto de vista do trabalhador e de quem está buscando emprego, a sugestão que eu dou é que haja uma reflexão sobre o que eu quero para a minha carreira profissional. É muito comum as pessoas saírem do cargo que elas estão na empresa A para a empresa B no mesmo cargo. Então não há um entendimento de uma progressão de carreira, de crescimento profissional. Isso se torna prejudicial porque demonstra para quem vai contratar que não há um plano de carreira ou noção de futuro — completou Sassi.