Propriedades rurais gaúchas já sentem as consequências da falta de chuva deste verão. Com temperaturas que ultrapassam os 30ºC, o calor intenso tem prejudicado o bem-estar dos animais, causando estresse térmico. Como consequência, produtores de leite relaram a diminuição na produção dos bovinos.
Em Casca, município de 9,4 mil habitantes do norte gaúcho, agricultores investem em ventilação e sistema de borrifamento de água nos dias mais quentes para os animais. São formas encontradas para driblar o calor intenso e a queda da produção.
— Como os animais estão acostumados e preferem um clima mais ameno, no momento que nós temos esse excesso de calor a perda de produção acontece — explicou o engenheiro agrônomo e Extensionista Rural da Emater/RS-Ascar de Casca, Maurício Dall Acqua.
Mesmo com o avanço tecnológico na produção leiteira, Casca tem um único galpão totalmente climatizado e há poucos casos semelhantes no RS, completou Dall Acqua.
O engenheiro compara os animais com uma "bacia de fermentação móvel". Isso porque, depois de ingerir os alimentos, as vacas de leite começam um processo de fermentação em seu estômago, o que gera ainda mais calor.
— No momento que temos um excesso de calor e esses animais não têm um ambiente com temperatura controlada, ele acaba sofrendo mais e isso reflete em queda de produção — pontua.
Além do estresse térmico, as altas temperaturas também fazem com que haja perda ou diminuição da qualidade nutritiva do pasto. Há prejuízo no milho, o que respinga na produção da silagem usada na alimentação de animais confinados.
— O milho é o principal produto cultivado para conservação na forma de silagem no município. Quem plantou antes, lá pelo mês de setembro, já colheu um milho para silagem com boa qualidade e um bom volume de produção. Mas quem plantou depois disso e pegou a estiagem de agora, o reflexo pode vir daqui até uns seis ou sete meses — disse Dall Acqua.
Falta de produtividade e qualidade nutricional
Na propriedade de Ângelo Mazzarollo, no interior de Casca, 40 dos 60 animais da propriedade são vacas de leite. Lá, a queda na produção por causa do calor é evidente: desde o final de dezembro, ele ordenha cerca de 500 litros de leite por dia, bem menos que a média de 800 litros diários em temperaturas amenas.
Grande parte da pastagem onde os animais se alimentavam morreu pelo calor e falta de chuva, e hoje é preciso acrescentar silagem e ração para suprir a demanda. Além do aumento do custo para manter os animais, a margem de lucro se tornou pequena.
— Não está sendo nada fácil. Estamos vindo de diversos anos de estiagem e no ano passado fomos castigados pelas fortes chuvas. Não estamos conseguindo produzir alimentação suficiente para os animais e precisamos comprar de fora. Isso encarece bastante nosso custo de produção — resumiu.