Primeiro a estiagem, depois chuva em excesso: a sucessão de condições climáticas extremas nos últimos anos no norte gaúcho tem forçado os agricultores a buscar alternativas para driblar as perdas na produção, em especial de frutas.
Se em 2021 e 2022 os agricultores se preocupavam pela queda na produção por causa da falta de chuva, desde o ano passado o excesso de água tem tirado o sono de quem sobrevive do trabalho no campo.
Só em outubro do ano passado choveu mais de 590 milímetros em Erechim, mais que o dobro da média prevista para o mês, de 260mm. No mês seguinte, o índice chegou a 562mm — bem acima dos 183mm de chuva esperados para novembro.
Dessa forma, o solo que já estava encharcado foi ainda mais danificado com as chuvas de maio. Agora, o escritório regional da Emater auxilia os agricultores a recuperar a terra prejudicada e a calcular os prejuízos.
— Em relação a safra passada, se estima uma redução na produção de 28% a 30%, chegando a 35% em alguns casos. Isso é muito relativo em relação ao manejo que o produtor adota — disse Ivonir Antonio Blesek, extensionista rural da Emater.
Preocupação crescente
Morador da linha Batistella, em Erechim, o agricultor Paulo Scherdien tem cerca de dois mil pés de citros na propriedade. Segundo ele, a propriedade enfrenta danos há pelo menos cinco anos — um motivo de preocupação crescente, uma vez que a família depende exclusivamente do trabalho na agricultura.
— Aí vem um ano onde há uma boa perspectiva de chuva e você aproveita para adubar bem a terra, mas vem essa chuva em excesso e leva tudo embora — relata Scherdien.
Ante as condições climáticas extremas, o jeito foi usar a criatividade para dar a volta por cima:
— Não perdemos essa frutas pequenas porque, como vendemos suco natural na Feira do Produtor, fomos nos adequando e descobrimos que, por exemplo, uma bergamota pocã ajuda a adoçar o meu suco de laranja — conta o agricultor, que dessa forma consegue evitar o desperdício de frutas.
Segundo a Emater, a alternativa é investir cada vez mais na recuperação do solo.
— Para recuperar essas áreas onde ocorreu a erosão, principalmente a erosão hídrica que leva embora componentes do solo, como matéria orgânica e nutrientes, o produtor vai precisar de algum tempo e investimentos, principalmente em correção de fertilidade — pontuou Blesek.