Por Vilson Noer, Presidente da Federação AGV (Associação Gaúcha do Varejo)
O governo federal insiste em usar mecanismos artificiais para impulsionar o consumo, e o crédito consignado atrelado ao FGTS é mais um exemplo disso. A medida pode até gerar um alívio momentâneo na economia, mas, no longo prazo, agravará a inadimplência — que já atinge mais de 75 milhões de brasileiros — e prejudicará o próprio setor produtivo.
Ao permitir que os trabalhadores usem o FGTS como garantia para novos empréstimos, o governo estimula um ciclo de endividamento que compromete o orçamento das famílias. O trabalhador, que já enfrenta dificuldades financeiras, pagará juros sobre um dinheiro que já é seu, enquanto o grande beneficiado será o sistema financeiro.
Se a intenção fosse realmente fortalecer o consumo, a solução mais justa seria liberar 50% do saldo do FGTS diretamente no salário, sem necessidade de empréstimos e sem cobrança de juros. Isso aumentaria o poder de compra da população sem empurrá-la para o endividamento.
Governo estimula um ciclo de endividamento que compromete o orçamento das famílias
Além disso, a intervenção estatal na economia por meio de soluções artificiais nunca trouxe crescimento sustentável. Criar crédito fácil não significa criar riqueza. Pelo contrário, incentiva um consumo insustentável que, mais adiante, resulta em inadimplência e retração econômica.
O Brasil precisa de políticas que estimulem emprego e renda, e não de paliativos que apenas adiam problemas. A produtividade dos brasileiros deveria também estar entre as prioridades do governo, pois comparada a dos Estados Unidos, está de 1 para 5 peças, por exemplo.
O governo precisa abandonar essa lógica de intervenção artificial e focar medidas que realmente aumentem a renda e o poder de compra da população. Somente assim construiremos um ambiente econômico saudável e previsível, em que o consumo não dependa de endividamento forçado, mas sim do fortalecimento do mercado e da geração de riqueza real.