Por Tarso Genro, advogado e ex-governador do Rio Grande do Sul
Neste momento em que Donald Trump aplica o seu tarifaço, a revista semanal The Economist, em seu mais recente editorial, traz a significativa chamada “Ruination Day”, advertência editorial que poderia ser muito comum lá nos anos 1930. Era a época dos blocos em preparação, para a futura guerra fria depois da derrota do nazismo, época em que os protecionismos no comércio exterior eram tão comuns, como talvez retornem no curto, violento e dramático sécul 21.
Escolhem as vítimas do seu protecionismo de acordo com seus interesses imediatos
Curto e dramático porque está aberto um ciclo de “tempos curtos”. Nestes, a decadência da “globalização das vantagens” aparece sobretudo nas economias capitalistas dominantes. E estas podem fazer o jogo que quiserem, com as regras impositivas que lhes aprouverem porque emitem a quantia de moeda que decidirem. E escolhem as vítimas do seu protecionismo de acordo com seus interesses imediatos, que podem logo mudar, segundo seus próximos e breves objetivos.
Os ciclos longos de estabilidade na ordem financeira e econômica global são substituídos por tempos curtos, somatizados pelos fluxos de sinais e dados, jogados de forma contínua, num mundo de espaços conectados e guerras; estas sim estáveis e em repetição.
Com a velocidade das mudanças o “golpe mortal no valor da durabilidade” faz concluir que o verbo perdurar “perde o sentido” (Zygmunt Bauman), mesmo porque os serviços, como os restos dos produtos das indústrias estão destinados a irem para um suposto estoque de reciclagem.
Os indivíduos não assimilados como úteis, neste mundo novo, permanecem sem compreender o que ocorre nos seus tempos de inserção social até um novo momento de marginalidade. Mas eis que surge uma janela: a unidade nacional que se formou no Congresso sobre o direito à retaliação pode ser um momento de mudança de rumos (e de sentidos) para recuperarmos a ideia de nação.