Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Quando falamos em inovação, o imaginário nos remete a tecnologias disruptivas. E foi exatamente isso o que representou aquela que é considerada uma das maiores inovações da era moderna: a imprensa. Criada por Gutenberg em 1430, a tecnologia dos tipos móveis permitiu reproduzir manuscritos – que antes levavam meses ou anos para serem copiados – em minutos. Para além do efeito na indústria do livro em si, ou do seu nascimento, na verdade, o grande impacto de transformação ocorreu na disseminação do conhecimento. E, com ela, a possibilidade de democratizar o acesso à educação e promover o desenvolvimento da ciência de forma ampla.
Desde lá, muita coisa mudou, menos a importância do livro para a evolução das pessoas e do mundo. Segundo dados da Nielsen, de 2015 a 2020 o mercado encolheu cerca de 20% no Brasil, ou seja: a crise não é de hoje e não tem como responsável somente a pandemia do coronavírus. Inclusive, talvez ela tenha até dado uma mãozinha: de acordo com o Painel do Varejo de Livros no Brasil, houve um aumento de 32,7% nas vendas em 2021 em relação ao ano anterior. Passado o primeiro impacto do fechamento do comércio físico e das dificuldades financeiras, estar mais em casa e com as limitações das atividades concorrentes, a leitura parece ter passado a fazer parte mais intensamente da vida dos brasileiros. Nessa mesma pesquisa, os dados de 2022 seguem a tendência de aquecimento do setor. Dentro desse crescimento, o gênero que mais ganhou importância foi o Infantil, Juvenil e Educacional, e educar as crianças e formar novos leitores sempre representa esperança de dias melhores.
Educar as crianças e formar novos leitores sempre representa esperança de dias melhores
O livro digital vai substituir o papel? Necessitaremos sempre estar conectados para apreciar uma boa história? Conseguiremos aprender e nos divertir ouvindo livros enquanto nos deslocamos nas cidades? Nossa criatividade, para ser provocada, precisará de novos estímulos animados? As pessoas que gostam de sentir o cheiro de um livro novo continuarão existindo? Independentemente de qual o formato, acredito no livro como instrumento de desenvolvimento. E a fórmula é relativamente simples: ciência – em qualquer área – gera conhecimento; difusão do conhecimento gera estímulo ao pensamento crítico, que gera capacidade de discernimento, que, por sua vez, gera autonomia. Essas pessoas conseguem fazer melhores escolhas, e estas são geradoras de desenvolvimento justo e sustentável.
Um livro não é somente um livro. O livro é cultura e cultura é poder. Em tempos difíceis, o livro é resistência