Por Fernando Goldsztein, fundador do The Medulloblastoma Initiative, conselheiro da Children’s National Foundation e MBA, MIT Sloan School of Manangemnt
Escrevo hoje sobre o mercado imobiliário onde tenho atuado desde sempre. Estou com 58 anos e, portanto, lembro bem de como era o mundo nos anos 70/80. Éramos analógicos. Nada de smartphones, internet, Wi-Fi, Amazon, redes sociais, Netflix, Uber, carros elétricos e tantas outras comodidades dos dias de hoje. Meus filhos acham que aquela nossa vidinha analógica era algo próximo à vida nas cavernas…
Mas, e os imóveis? Pouco se fala, mas também evoluíram ao longo do tempo. É claro que de forma mais lenta, pois, diferente de um carro ou de um smartphone, um apartamento não é facilmente substituído e muito menos reciclado.
Naquela época, a inflação chegou a inacreditáveis dois dígitos - por mês
Há 40/50 anos, vivia-se predominantemente em casas. Porém, com o passar do tempo, as casas foram dando espaço aos prédios, e as cidades passaram a crescer verticalmente. Naquela época, as crianças brincavam nas calçadas, pois não havia problemas de segurança. Mal podíamos imaginar que um dia viveríamos enclausurados entre gradis, cercas elétricas, câmeras e guaritas blindadas. As áreas de lazer dos condomínios, por sua vez, eram espartanas, nada de piscinas, playgrounds, fitness ou quadras esportivas. As famílias de classe média tinham, em geral, apenas um carro. Ter duas vagas na garagem era considerado um artigo de luxo.
Naquela época, a inflação chegou a inacreditáveis dois dígitos - por mês. Ao receber o salário, a população corria para o supermercado a fim de fazer as compras do mês. Estocar alimentos e produtos de higiene e limpeza era o melhor investimento. Portanto, se faziam necessárias cozinhas espaçosas ou, eventualmente, armazenava-se tudo no dormitório de serviço, que já começava a cair em desuso.
Naquele tempo, em que havia o predomínio de casas, era comum as famílias compartilharem o mesmo banheiro. Normalmente, a peça era ampla e sempre com o saudoso bidê, que foi substituído pelas infames duchinhas higiênicas atuais. Já há muito tempo, não se concebe fazer apartamentos sem suíte — passou a ser ítem de primeira necessidade.
Começávamos também a adquirir os primeiros computadores. Com monitor e CPU avantajados, era necessário espaço para instalá-los e também um ponto de linha telefônica - única forma de se conectar com a internet. Criou-se, então, um pequeno ambiente chamado de web space. No caso de imóveis mais antigos, o web space era adaptado no dormitório de serviço pois, como citei anteriormente, ele passou a ser “pau para toda obra”.
E quem não lembra das TVs de tubo, que podiam ter até 75 cm de profundidade? Ocupavam um espaço relevante na sala de estar. Hoje em dia, as TVs não passam de um quadro pendurado na parede. Isso sem falar nos equipamentos de som que também demandavam espaço — além das prateleiras para os discos de vinil ou CDs e DVDs. Hoje, tudo foi substituído por caixinhas de som que, além de não ocuparem espaço, têm repertório infinito.
Mas, já que o assunto é espaço, lembro que também tenho limites para acomodar tantos exemplos neste texto. Ítens como a evolução do uso de materiais e acabamentos, sistemas de ar-condicionado e aquecimento de água, além do uso da IA nas atividades domésticas, ficarão para um próximo capítulo. Aguardem!