Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Há muitos anos, conversando com a pró-reitora acadêmica da Unisinos, disse a ela: “Meu desejo é que um dia eu possa chegar à universidade e formatar o meu próprio curso. Escolher as disciplinas que vão me ajudar a criar a minha profissão, aquela para a qual eu descobri um nicho de mercado que pode gerar o prazer e o dinheiro que quero para mim”. O tempo passou e lembrei da conversa ao me deparar com o evento Hacktown, que terminou ontem na pequena cidade de Santa Rita do Sapucaí, interior de Minas Gerais.
Achei a proposta bem diferenciada. Quase só brasileiros palestrando. Assuntos interessantíssimos como: A música como negócio; Dados como ferramentas de desenvolvimento social; Antifragilidade; Hackeando a inovação; É possível ser feliz de segunda a sexta?
Mas o de que mais gostei foi ver como os palestrantes descrevem suas profissões. Anfitriã de conversas. Head de experiências e construção de comunidades. Arquiteto de soluções. Influenciadora de diversidade, equidade e inclusão. Multiplicador de tendências. Mental coach. Consultor existencial. Gerente de cultura e impacto. Gestor de tráfego musical. Terapeuta integrativo. Fiquei pensando: quanta coragem precisamos para sermos autênticos e nos conectarmos com o que realmente faz sentido para nós! Essa geração que busca mais o ser do que ter cada dia mais quer trabalhar naquilo que faz sentido para si-próprio. Um belo desafio para as escolas e universidades que, com certeza, já estão recebendo pessoas com esses novos desejos!
Deixaram de priorizar temas essenciais, como desigualdade social, racismo, direitos das mulheres, preservação ambiental
Como as empresas e as cidades vão conseguir atrair e reter talentos diferenciados como esses? Como legisladores e gestores públicos podem contribuir – ou pelo menos não atrapalhar? Como criar um ecossistema que estimule essa diversidade? Saindo da caixa, acolhendo o diferente, escutando para entender o que é prioridade, o que pulsa e para que lado os novos ventos estão soprando. A cada dia, mais e mais o mundo dos negócios e o setor público serão chamados a criar novos produtos, reformular conteúdos, espaços e formas de participação. Na política então, nem se fala. Muitos candidatos estão completamente desconectados do que pulsa no Brasil e em grande parte do mundo. Deixaram de priorizar temas essenciais, como desigualdade social, racismo, direitos das mulheres, preservação ambiental.
É preciso estarmos atentos às microtransformações e agir. Identificar as cabeças mais inquietas e diferenciadas. E atuar sobre os ambientes que estão mais estagnados. O que não dá é, em plena era digital, ter uma baixa conectividade com o que rola aqui e no mundo. Bora se reinventar!