Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Reconstruir o debate público brasileiro. É o que propõe o escritor Francisco Bosco no recém-lançado livro O Diálogo Possível (Todavia, 2022). Ele reconstitui o que aconteceu no país nos últimos anos, trazendo muitas das raízes do momento dramático que vivemos. Temos uma sociedade dividida, com diálogos impossíveis, com a tecnologia sendo usada a serviço do mal. Os algoritmos das redes sociais estimulam a polarização, formando bolhas de quem pensa igual e hostilizando quem pensa diferente.
Isso vem destruindo os vínculos entre familiares, amigos e colegas de trabalho.
No livro, Bosco lembra que o que consolidou a comunidade imaginada brasileira foi o fenômeno da cultura popular, “que passou a funcionar como a grande instância do sentimento nacional, a alma”. Foi através da cultura que o Brasil mais conseguiu se aproximar de parâmetros democratizantes efetivamente integradores, no futebol e na canção, gerando o único verdadeiro mito de união nacional. Foi através da cultura popular que boa parte do povo brasileiro se reconheceu e, por meio dela, se estabilizou enquanto comunidade imaginada.
A verdadeira política é a maneira pela qual vamos identificar alternativas de futuro e construir as alianças que vão permitir definir os meios e os rumos para implantar um destino coletivamente escolhido.
Precisamos aprender a escutar, procurar entender o que leva o outro a pensar diferente de nós e, principalmente, reconstruir os nossos vínculos. Entrar em acordo para conseguir viver em grupo, construir projetos, encontrar caminhos viáveis para resolver nossos conflitos. Escolher o tipo de vida que queremos para desfrutar juntos.
O desafio que se impõe no momento é: DEFENDER A DEMOCRACIA!
Que, para ter alguma eficácia, pressupõe o diálogo hoje inexistente.
É através do diálogo político que produziremos uma unidade mais permanente, que nos permitirá tanto os atos coletivos de defesa das instituições como, principalmente, o apoio a políticas que ataquem de frente, constante e consistentemente, as nossas muitas mazelas. Porque a verdadeira política é a maneira pela qual vamos identificar alternativas de futuro e construir as alianças que vão permitir definir os meios e os rumos para implantar um destino coletivamente escolhido. Somente através da verdadeira política, exercitada democraticamente, poderemos evitar a flutuação das escolhas momentâneas, que se esgotam em si mesmas e não constroem um futuro destinado a persistir. Precisamos estudar nossos problemas e identificar os arranjos políticos que as eternizam.
Temos um longo caminho para produzir consensos transformadores duráveis, que propiciem a inclusão via cidadania e direitos democráticos. Sabemos que não vai ser fácil. Depois de assegurarmos a democracia, o passo seguinte está na canção de Ivan Lins e Vítor Martins: “começar de novo / vai valer a pena!”.