Por Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Estácio RS e doutorando em Literaturas Africanas.
Sabemos que a Literatura formada em um país possui papel muito importante para a construção do imaginário social, como veículo histórico. Sendo assim, como lidamos com uma nação que traz, no seu cânone literário, obras que contribuem de forma indelével com a manutenção de estereótipos criados desde a época colonial? É assim o que vemos em obras como de Monteiro Lobato, por exemplo, que já foi alvo de polêmica, com suas personagens que usavam expressões racistas.
Dizer que a obra do autor é racista e afirmar que o próprio autor, que vivia numa sociedade racista (será que não vimemos mais?) era racista, é óbvio e fácil. Difícil, e digno de repensar, é como vamos ensinar Literatura Brasileira e Monteiro Lobato para nossos jovens a partir de tais apontamentos e discussões.
Várias soluções foram apresentadas, como a de trazer notas de rodapé para explicar os trechos racistas e investir em uma formação de maior qualidade e criticidade aos nossos docentes
No Brasil, costuma-se discutir as relações étnico-raciais de forma muito rasa, pois para que uma sociedade racista se mantenha funcionando, evidentemente, é necessário que o racismo perdure e siga obedecendo ao mito da democracia racial (que muitos ainda defendem como realidade).
Várias soluções foram apresentadas, como a de trazer notas de rodapé para explicar os trechos racistas e investir em uma formação de maior qualidade e criticidade aos nossos docentes. Concordo com esta última proposta, porém nos colocamos em um impasse. Para que esta seja uma solução efetiva, os demais atravessamentos que atingem o professor em formação teriam de ser aniquilados ou amenizados (ideologias, questões de raça, cor, formação europeizada, preconceitos).
Novamente a roda gira e fica sem resultado, será que podemos deixar nas mãos da estrutura do estado, aquele com o qual os movimentos negros vêm reclamando há anos suas reivindicações, a solução de um caso assim? Difícil questão. Será que somos, usando Pepetela, a geração da utopia?