Por Andréa Poyastro Pinheiro, médica psiquiatra, membro aspirante da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre e diretora científica da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
O racismo é uma chaga que tem efeitos malignos no mundo e no Brasil. Assim como as demais formas de discriminação, causa profunda dor, desespero, humilhação e exclusão.
Enfrentar a questão do racismo e seus efeitos sobre a saúde mental requer um debate aberto e franco sobre as formas de se lidar com este mal. O racismo e a doença mental tem uma forte ligação. A discriminação com base em raça ou etnia pode causar e piorar os transtornos mentais, assim como dificultar grandemente o acesso a tratamentos efetivos. Depressão, ansiedade, stress pós traumático, abuso de substâncias e pensamentos suicidas podem se originar diretamente de incidentes racistas, ou indiretamente, pelas desigualdades vividas ao longo da vida, as quais o racismo perpetua.
Os impactos na saúde mental provem do preconceito, da repressão e opressão, da falta de acesso a recursos, entre outros, causando tanto efeitos de curto prazo como o stress e seus correlatos, como consequências prejudiciais de longo prazo, decorrentes de vivências traumáticas crônicas. O trauma racial é mais complexo, pois a ameaça de discriminação é contínua. O impacto na qualidade de vida é incalculável. Existem evidências que o trauma racial é transgeracional, podendo impactar negativamente futuras gerações.
Todos temos a responsabilidade de desconstruir o racismo, através da educação, do apoio, de garantir a segurança das vítimas de discriminação racial, e de confrontar, denunciar, não calar
Enfrentar o impacto do racismo na saúde mental é um grande desafio, os obstáculos são enormes. Como cidadãos, como profissionais de saúde mental, de que forma podemos desenvolver estratégias e assumir responsabilidade por esta doença social? Como desenvolver habilidades para aumentar a resiliência da comunidade negra? Técnicas de alívio de stress, apoio de amigos, família e comunidade, fortalecimento e valorização de uma identidade cultural e melhor acesso a tratamentos de saúde mental são algumas alternativas descritas em pesquisas da área.
Todos temos a responsabilidade de desconstruir o racismo, através da educação, do apoio, de garantir a segurança das vítimas de discriminação racial, e de confrontar, denunciar, não calar. Em nosso meio, as instituições de formação de profissionais da área de saúde mental devem discutir, e algumas já o fazem, maneiras de ampliar o acesso de profissionais negros, para que possamos ter maior diversidade e representatividade entre nossos colegas. Melhorar a integração racial entre profissionais e pacientes é uma forma de combater o racismo.