Por Airton Fernandes Araújo, cientista político e diretor de formação política da Frente Negra Gaúcha
No ano em que se comemora os cinquenta anos da data do Vinte de Novembro, ocasião em que negros e não negros deveriam refletir sobre as desigualdades e as condições sociais deste segmento na sociedade brasileira, alguns apontamentos são necessários vir à tona para uma parte significativa de brasileiros que ainda consideram o tema do racismo irrelevante ou inexistente.
Em primeiro lugar, é importante destacar que o Dia da Consciência Negra, cuja a data, vinte de novembro, somente foi possível graças aos estudos de pesquisas do grupo Palmares, liderado por Oliveira Silveira, mas tendo a seu lado figuras expoentes como Ilmo da Silva, Antonio Cortes, Jorge Xangô, Luis Paulo Assis Santos e Vilma Nunes, em que contestavam o dia treze de maio como o dia da abolição da escravidão. Para o grupo Palmares, o vinte de novembro representava a luta pela liberdade, por tratar-se do dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder negro que construiu o Quilombo dos Palmares e combateu as forças elitistas e escravagistas.
A verdadeira história deve sempre ser recontada para uma reciclagem de aprendizado e ao mesmo tempo propiciar um novo olhar aos que desconhecem o tema sobre o negro brasileiro
A verdadeira história deve sempre ser recontada para uma reciclagem de aprendizado e ao mesmo tempo propiciar um novo olhar aos que desconhecem o tema sobre o negro brasileiro. Sendo assim, é importante observar que desde que aqui chegaram trazidos da África, de modo escravizados, a partir dos anos de 1550, os negros, deixaram uma valiosa contribuição, tanto no aspecto econômico como no demográfico e no plano cultural. No que diz respeito ao econômico, a mão de obra negra escravizada produziu não só a riqueza do Brasil colonial, mas, ajudou a impulsionar a indústria européia.
O Rio Grande do Sul, apesar de ser mostrado nos livros didáticos como sendo colonizado somente por países europeus, também tem a presença de negras e negros entranhada em todos os aspectos elencados anteriormente. Porém, foi na produção do charque que a mão de obra escravizada dos negros elevou a economia desse Estado e ostentou e sustentou por muito tempo uma classe social rica e branca do município de Pelotas.
No que tange às guerras e às revoltas tem-se, também, a presença forte dos negros demonstrando que os mesmos foram formidáveis combatentes nas cavalarias e infantarias. Dentre elas, a mais emblemática, a Revolução Farroupilha de 1835.
Portanto, é fundamental que todas as pessoas brasileiras tenham a consciência negra rotineiramente. Que o tenhamos todos os dias, o 20 de novembro, até que não se precise mais.