Pela sua importância no mercado de trabalho e na economia gaúcha, justifica-se plenamente a atenção das autoridades aos desdobramentos de surtos de coronavírus nos abatedouros do Estado. É sabido, também por centenas de casos nos Estados Unidos e na Europa, que ambientes de frigoríficos são especialmente vulneráveis à entrada e à disseminação do vírus. A medida mais radical e rápida para conter as contaminações, fechar os estabelecimentos, seria, no entanto, a última alternativa, diante dos riscos de perda de emprego e desabastecimento de proteína animal, um alimento essencial.
É preciso trabalhar para preservar o setor, sem descuidar de medidas sanitárias que evitem a propagação do coronavírus
De acordo com todas estas premissas, deve ser louvado o acordo fechado na madrugada de sexta-feira para reabrir uma indústria que estava interditada em Lajeado. Constatou-se, a partir da realidade da linha de produção em espaços refrigerados, e da própria atividade em si, intensiva em mão de obra, que não bastam mudanças cosméticas e cautelas adicionais para garantir a proteção aos trabalhadores. Por isso, as concessões e disposição para adaptações mais profundas são vitais para impedir que a atividade seja ainda mais atingida no Rio Grande do Sul.
É uma área em que, além de tradição, o Estado conta com unidades de ponta no abate de bovinos, aves e suínos, com grande peso exportador. Até por isso, como existe demanda externa, é preciso trabalhar para preservar o setor, sem descuidar de medidas sanitárias que evitem a propagação do coronavírus nas comunidades onde estão inseridos.
Por meio de seus poderes e entidades associativas, o Rio Grande do sul vem dando exemplo de que o diálogo e a compreensão da gravidade do momento são decisivos para que os impactos do coronavírus sejam amortecidos, mesmo que regionalmente, como se pode constatar até o momento. Ainda há casos de outras unidades que precisam ser solucionados, mas existem indicações de que são boas as chances para um desfecho positivo.
A seriedade e a responsabilidade com que vem sendo tratada a questão dos frigoríficos se encaixa de forma adequada no plano de distanciamento controlado que completa uma semana no Rio Grande do Sul.
A maior ameaça ao plano e, por consequência, à melhor rota de saída da crise com que os gaúchos contam, seria encontrar “jeitinhos” para driblar as regras estabelecidas com base na ciência, depois de muito diálogo. Felizmente, como mostra a pronta atuação das autoridades, com intervenção de todos os entes interessados, a complexa gestão do problema na indústria de carnes aponta que o Rio Grande do sul está no caminho certo.