Por Luís Beck da Silva Neto (médico), Suzana Cardona Lago (médica) e Pedro Lago Beck da Silva (estudante, 11 anos). Artigo escrito a seis mãos, direto da quarentena.
Nunca antes na História, o planeta Terra foi tão claramente uma única nave tripulada. Nunca fomos tanto uma única tribo, sujeita aos mesmos inimigos. Jamais seríamos capazes de imaginar o Brasil sem novela e sem futebol.
Conforme o grupo de chineses chegando para ajuda humanitária na Itália: "Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim". Escrito em italiano, em grande faixa vermelha, aberta ao lado do avião, tão logo aterrissaram no continente europeu.
O mundo mudou, mudará mais, e não voltará ao ponto de partida.
Produtos, serviços ou bens mudarão de preço. Valores serão modificados. Profissões modificarão suas tarefas.
Na medicina, estamos aprendendo, médicos e pacientes, a resolver problemas a distância.
Por ora, ainda não regulamentada a remuneração da telemedicina, estamos preocupados primeiramente em resolver os problemas das pessoas. Pacientes se surpreendem em receber ligações do seu médico. Na grande maioria dos casos, problemas são resolvidos efetivamente e em menos tempo com o contato telefônico. Ora com imagem, ora sem. Para os pacientes, o contato telefônico certamente abrevia o tempo gasto com transporte e com salas de espera. Sem falar na dificuldade às vezes hercúlea de movimentar idosos e doentes muito fragilizados até o consultório médico. Com a única ressalva de que muitos pacientes relutam em desligar o telefone, satisfeitos que estão com o contato humano. Mas até para isso haverá uma nova etiqueta a ser concebida.
Farmácias terão que aceitar receitas por meio eletrônico. Acabar com a hegemonia do carimbo anacrônico.
Vislumbro médicos com agendas presenciais e agendas virtuais. Cada uma dependendo da situação. O contato presencial é insubstituível, mas não precisará ser sempre.
Viajaremos menos a trabalho. Faremos muito mais reuniões virtuais. Até porque agora aprendemos a usar os tais aplicativos.
Possivelmente sobrará mais tempo em casa. Felizes das crianças.
A grande mudança que esta fase nos obriga a aceitar, à força, é que, de fato, somos todos ondas do mesmo mar. E temos que aprender a navegar novos ventos.