A surpresa positiva do PIB do terceiro trimestre, que mostrou alta de 0,6% frente aos três meses imediatamente anteriores, quando a média das expectativas era de 0,4%, dá finalmente um sinal mais consistente de que a economia, aos poucos, se recupera de um longo inverno de estagnação e recessão. O 0,2 ponto percentual acima do esperado, uma diferença que há alguns anos seria desprezível, tem agora o poder de indicar que o quarto final de 2019 tende a confirmar um ritmo melhor da atividade, com reflexos particularmente positivos para 2020. Conhecidos os números do IBGE, economistas se apressaram em refazer projeções mais otimistas tanto para este quanto para o próximo ano.
Crer em um ciclo de crescimento assentado em bases sólidas, com uma drástica redução do desemprego, só será possível se o ímpeto reformista não arrefecer
Ao mesmo tempo em que, corretamente, se saúda o sinal positivo, é preciso se alertar que o país ainda está muito longe de recuperar as perdas da recessão e deve crescer muito ainda para aplacar a chaga do desemprego. A marcha da indústria, dos serviços, do comércio, da agropecuária e do consumo das famílias poderia ser mais acelerada se o Planalto fizesse a sua lição de casa por completo. Entre as reformas decisivas para o país, o governo, com apoio decisivo da liderança do Congresso, conseguiu entregar apenas a da Previdência, e ainda assim com uma potência abaixo das necessidades. Outro feito relevante foi a aprovação da Lei da Liberdade Econômica, que gera condições necessárias para fazer frutificar um melhor ambiente de negócios.
Apesar destes avanços, é fundamental que os primeiros indícios de retomada da economia não gerem uma acomodação e a sensação de que é possível empurrar com a barriga outras medidas duras mas essenciais, como a reforma administrativa e o programa de privatizações, ou intrincadas, como uma vasta revisão do sistema tributário nacional. Essas e outras iniciativas, como o pacto federativo, para cumprir a promessa de "menos Brasília e mais Brasil", ficaram para 2020. Como é um ano de pleitos municipais, seria prudente apressar as negociações para que o máximo possível possa ser implementado ou votado nos primeiros meses do ano, para evitar a contaminação eleitoral.
Crer em um ciclo de crescimento assentado em bases sólidas, com uma drástica redução dos percalços para o desenvolvimento e dos elevados índices de desemprego, só será possível se o ímpeto reformista não arrefecer diante das tentações populistas a que volta e meia se rendem setores do governo. A transformação do Brasil exige sacrifícios e medidas duras. Tergiversar e postergar indefinidamente as mudanças é adiar mais uma vez a chegada de um futuro melhor.