Por Sergio Mena Barreto, CEO da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma)
Todos os anos, 100 mil pessoas morrem em razão de acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 300 mil em decorrência de problemas cardíacos no Brasil. É como se, anualmente, Bento Gonçalves e Pelotas sumissem do mapa. Essas mortes poderiam ser evitadas tratando-se duas doenças básicas, o diabetes e a hipertensão. Mas não é o que acontece.
Quase 50% dos brasileiros não tomam os medicamentos que deveriam. A maioria só cuida dos sintomas, como a dor de cabeça, a tontura e o mal-estar.
Mas há dados ainda piores. Pesquisa do Datafolha de abril apontou que 57% dos brasileiros alteram a dosagem prescrita pelo médico. É um dado assombroso, que se conecta com outro inacreditável. Estudo realizado no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, em 2013 e 2014, apontou que 14,6% dos atendimentos de urgência se davam por problemas com medicamentos. Extrapolando esse número para o país, são mais de 2,8 milhões de internações anuais no Sistema de Saúde Pública (SUS), ao custo de R$ 3,2 bilhões por ano, em razão de efeitos adversos de remédios.
É nesse contexto nada favorável que surge a discussão da venda de medicamentos isentos de prescrição nas prateleiras dos supermercados, sem nenhuma assistência farmacêutica, ao lado de linguiças e picanhas. Os defensores dessa ideia alegam que é importante dar mais acesso às pessoas. Ora, no Brasil já existem 80 mil farmácias, sem contar a enorme infraestrutura do SUS, que cobre 100% dos municípios brasileiros. Não faltam, portanto, locais para se adquirir remédios.
Permitir a venda de medicamentos em supermercados, junto de bebidas, óleo de cozinha e sucrilhos, é banalizar um produto que é seguro, mas não isento de riscos. É, sinalizar, também, que está tudo bem em se cuidar apenas dos sintomas, em se livrar da dor de cabeça, e não manter a doença crônica sob controle.
Nós não precisamos de mais locais para vender remédios. O Brasil necessita vencer o abandono ao tratamento, o mal das mortes precoces por doenças evitáveis. Para isso, é fundamental fazer checkups na população, identificar riscos e encaminhá-la ao médico. Investir na educação do usuário promoverá a melhora na saúde brasileira. Eu tenho certeza de que é na farmácia, com assistência farmacêutica, informação e apoio à adesão ao tratamento, que isso pode ser feito da maneira mais adequada.