Por Bruno Biasetto, historiador
As grandes datas geralmente servem para que possamos refletir sobre o que elas significam para o nosso tempo. Com a celebração dos 30 anos da queda do Muro de Berlim não é diferente. O fim do Muro representou o inicio do fim do jugo Soviético sobre a Europa Oriental e o fim da Guerra Fria como processo histórico, mas o seu significado está em algo maior. Os alemães que bravamente cruzaram a fronteira na noite de 9 novembro de 1989 sonhavam com uma sociedade aberta e próspera, e era a essa a verdadeira promessa contida naquela noite. Promessa essa que foi perdida nos últimos trinta anos.
O significado da Queda do Muro foi muito além da própria Alemanha, foi um evento de impacto global. O fim do Muro simbolizava que as décadas de conflitos e tensões trazidas pela Guerra Fria estavam chegando ao seu final, e com isso, uma nova ordem mundial deveria surgir. Lideranças politicas e intelectuais vislumbravam um mundo sem conflitos, globalizado e com a presença de uma forte matriz liberal regendo todos os aspectos da sociedade. Hoje está claro que houve por parte dessas lideranças um excesso de otimismo e arrogância de que esta nova ordem mundial prosperaria naturalmente.
Os anos 190 trouxeram a falsa impressão de que esse cenário otimista se realizaria de fato, mas logo despertamos para a realidade. Aos ataques terroristas de Nova York em 2001 se seguiram os conflitos no Oriente Médio, a Crise de 2008 e a polarização política global que colocam em xeque a democracia e o Estado de Direito. Em seu lugar, temos uma realidade caótica que gera um ambiente pouco favorável para a solução dos problemas globais. Por fim, devemos lembrar que as pessoas que se dirigiram ao Muro de Berlim em 1989 não eram fanáticos de nenhum "ismo". Eram apenas seres humanos que ansiavam com uma vida mais livre e prospera, reunidos novamente com a família e os amigos que viviam no outro lado. E essa é a lição que permanece para nos que aqui estamos hoje necessitando derrubar os nossos próprios muros.