Por Ricardo L. Hentschel, biólogo, mestre em Botânica
É raro o consenso sobre questões ambientais. Pesquisadores, após anos de estudos, revisões bibliográficas e testes estatísticos de ponta, quando vão concluir algo, normalmente usam verbos como "parece", "sugere", etc. Isto por que são muitos fatores envolvidos, os sistemas não são fechados e as fronteiras incertas.
Porém, mesmo conservadora, a ciência nos comprova fatos irrefutáveis. Talvez, o principal seja que para que se tenha vida ativa, precisamos de água. Outro, é que a fotossíntese gerou maior concentração de oxigênio na atmosfera – e esse é o gás que respiramos e esse é consumido nas queimadas.
Atualmente, expedições espaciais buscam vida fora da Terra, o que até pode ocorrer, mas dificilmente será em condições favoráveis à nossa sobrevivência. Também do espaço, os satélites nos mostram a Europa com poucas áreas verdes e o norte do Brasil com o maior contínuo florestal do mundo.
Apesar de contextos históricos muito díspares, não precisamos repetir os erros dos outros no desenvolvimento da Amazônia. Devemos saber escolher as referências boas. Por que não nos espelhamos na Suécia, para buscarmos a mínima importação de combustíveis fósseis? Por que não reduzir os danos ambientais e agregar mais valor aos nossos produtos?
Políticas ecoeficientes não impedem que a área de 80% de Reserva Legal da Amazônia seja avaliada, mas vale destacar que o modelo de produção: desmatar, queimar, plantar por alguns anos, depois criar zebus, vai de 80% para 65%, depois 50%, 25%... E se novas as fronteiras agrícolas fossem os milhares de hectares "improdutivos" que já foram desmatados?
Enfim, além da complexidade natural, há uma densa fumaça de interesses. A causa ambiental é socialista e liberal, é de todos. Temos que diluir o antagonismo político e compor uma estratégia técnica que não seja meramente extrativista e que proteja a biodiversidade. A saúde da Amazônia ecoa na sustentabilidade e temos uma grande oportunidade de se desenvolver como nenhum outro país fez.