Por José Alberto Wenzel, analista ambiental
Nos assemelhamos a pássaros que retornam para alimentar sua cria e encontram o ninho derribado. Apenas nos assemelhamos, pois nós mesmos desmontamos o ninho onde abrigamos nossos descendentes. Por que destruímos nosso próprio habitat?
A pergunta martela e a resposta demora. Relatar que desmatamos inescrupulosamente, poluímos águas e ares, encharcamos o ambiente com agrotóxicos, impulsionamos os eventos extremos de secas e enchentes, desconfiguramos as paisagens, descuidamos das espécies vulnerárias, atropelamos o clima, promovemos as migrações populacionais pela perda de suas condições vivenciais já não basta. Como não nos bastam, ainda que meritórias e necessitadas de continuidade, as campanhas de cuidado e conscientização em torno de pautas ambientais.
Como resposta, soa insuficiente a ganância consumista, nunca satisfeita, que desafortunadamente nos é própria. Ninhos desfeitos exigem uma reflexão/ação bem mais profunda. Ninhos que já não acalentam, mas, sucumbem filhotes, também os nossos.
Ao somatório do descuido humano com sua própria casa avoluma-se a codificação artificializante da natureza e a percepção imprópria de que ao morrer vamos deixar este mundo, portanto, porque dele cuidar? Já ensinava Flusser que ao codificar o mundo tecemos um véu que nos empana a percepção da solitária morte. O mesmo véu que empalidece nosso diálogo franco, honesto e limpo com a natureza. Como não lembrar da convicção de Lutzenberger de que fazer ciência equivalia a contemplar a beleza do universo? Artificializamos a natureza em imagens e números como se fosse um problema, quando, é sempre a solução e a condição sinfônica da vivência.
Sinfonia que se quebra a cada árvore abatida. Com ela caem os ninhos, não sobem as águas, não retorna o oxigênio, avoluma-se o gás carbônico. Sinfonia desarranjada pelo abate amazônico, impossível de ser encoberto pelos véus, sejam estes quais forem, inclusive estatísticos.