Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
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O acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) deve ser celebrado, mas lembra a advertência “beba com moderação”. Acordos de comércio, desde que bem administrados, são sempre auspiciosos no longo prazo pelas oportunidades geradas. Este vem tarde, já deveria ter sido aprovado no governo de F. H. Cardoso, quando a moda era a integração. Ao contrário do que se poderia pensar, as maiores resistências partiram não dos governos de esquerda latino-americanos do começo deste século, mas dos europeus. Estes agora se sentem espremidos entre dois nacionalismos, o americano e o chinês, o que apressou a assinatura. Mas o ímpeto protecionista não arrefeceu e se evidencia nas salvaguardas exigidas.
A UE sabe que sua indústria de ponta ganha de longe em produtividade do Mercosul, assim como na qualidade de suas “especiarias”, como bebidas e produtos lácteos. Para esses, quer livre-comércio. Mas tem consciência de que não pode concorrer – seja por clima, custos e produtividade – com os produtos agrícolas. Nas negociações, França e Alemanha impunham que toda exportação fosse in natura, além de cotas bastante restritivas a carne bovina, frango, etanol e açúcar, entre outros itens.
No fechamento, a UE exigiu mais um protecionismo: o reconhecimento de mais de 350 produtos cujos nomes são de “exclusivismo geográfico” (como o champagne, o cognac e o roquefort), contra apenas 38 daqui (como a cachaça). É difícil ser amador ou brincar de livre mercado com parceiros avessos à reciprocidade. Sem contar que o acordo oficializa a adoção de barreiras sanitárias e ambientais, cujo mérito não encobre seu uso, na prática, como pretexto ao protecionismo. Na contramão, o Brasil faz questão, ultimamente, de menosprezá-las, tratando-as como simples ideologia. Todavia, é a forma mais popular de os governos europeus atenderem a grupos de interesse, especialmente quando o nacionalismo desenfreado avança no continente. Acordos de comércio, sabe-se, dão trabalho: exigem permanente repactuação, diplomacia atuante e com autonomia, estudos setoriais e empresariado atento e inovador. Com deficiência nesses quesitos e diante de parceiro experiente, o melhor conselho vem da música: “Alegro... ma non troppo”.