Por Paulo Brack, professor do Instituto de Biociências da Ufrgs
No início de maio, houve o lançamento de um importante documento de alerta do Painel Intergovernamental em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), ligado à ONU: mais de 1 milhão de espécies no mundo estão ameaçadas de extinção. O documento refletiu uma avaliação inédita, realizada por centenas de cientistas que acompanham este processo dramático de perda acelerada de flora, fauna e ecossistemas no mundo.
Mais da metade das terras e dois terços dos oceanos já estão em processo de degradação ambiental. Cerca de 33% dos corais estão desaparecendo pela acidificação dos oceanos, ligada aos gases de efeito estufa. As conclusões são de que a destruição da natureza, a taxas sem precedentes na história, traz graves consequências à própria humanidade.
Os resultados reafirmam o fracasso em se atingir as 20 Metas da Biodiversidade 2020. O Brasil, campeão em megabiodiversidade, tem 2.113 espécies vegetais e 1.173 espécies da fauna ameaçadas oficialmente. Cabe lembrar que a Constituição Federal, em seu Art. 225, define a vedação de atividades que possam promover a extinção de espécies. Apesar de o Brasil ter tido papel importante na Convenção da Diversidade Biológica (CDB), desde 1992, vemos agora o governo federal desestruturar a pasta de meio ambiente, desejando atacar suas mais de 300 áreas naturais protegidas.
Ignorantes, desconhecemos a função nobre dos polinizadores e também que florestas, campos e outros tipos de vegetação natural desempenham papel fundamental na recarga dos aquíferos, na proteção do solo e na formação de nuvens essenciais às chuvas, fundamentais à agricultura e ao abastecimento humano. Desconhecemos que o incremento do uso sustentável de nossa flora ameaçada é, muitas vezes, a própria chave para evitar o seu desaparecimento. Se utilizássemos mais os frutos e sementes de plantas como butiá, araucária e palmeira juçara, elas sairiam destas listas. Mas quem se interessa em saber que 22 de maio é o Dia Internacional da Biodiversidade? Onde foi parar nossa Fundação Zoobotânica?