Os parlamentos brasileiros enfrentam, a partir das posses nessa semana, o desafio de transformar em realidade o clamor por ética e transparência demonstrado pelo resultado da eleição de outubro do ano passado. Em uma democracia consolidada, o Legislativo tem funções insubstituíveis: além de debater e aprovar leis, é responsável pela fiscalização dos atos do Executivo, servindo de contrapeso necessário na construção do equilíbrio de forças do país. Por isso, é preciso que os eleitos para integrar as novas legislaturas possam se colocar acima das meras disputas por cargo, acirradas no Congresso, e da pulverização em níveis recordes de partidos, evitando dar continuidade ao desgaste do Legislativo.
É nos parlamentos que se garante, legitimamente, os interesses de um leque de segmentos que compõem a sociedade. Entre esses, estão os dos que foram derrotados nas eleições para o Executivo em âmbito estadual e federal. Por isso, cresce também a relevância e a responsabilidade de uma oposição que trabalhe por um projeto de Estado e de país e não por um projeto de poder.
No caso específico do Rio Grande do Sul, a legislatura recém empossada é marcada pelo fato de metade dos deputados eleitos serem estreantes. Ao mesmo tempo, é a que registra o maior número de partidos da história. Essas características precisam ser aproveitadas para facilitar a intenção do governo gaúcho de aprovar questões emergenciais para o setor público gaúcho, que dependem do aval do Legislativo. Como adianta o presidente da Assembleia Legislativa, Luís Augusto Lara, mesmo num ambiente polarizado, "é possível encontrar consensos".
No momento em que se questiona a efetividade do atual modelo democrático, os deputados e senadores que estão sendo empossados terão a oportunidade de justificar a existência das instituições que representam. Em meio aos esforços de muitos políticos preocupados em honrar seus mandatos e a delegação que receberam dos eleitores, incluem-se os que insistem em continuar contribuindo para desgastar ainda mais a imagem do Legislativo, há algum tempo às voltas com denúncias de corrupção, clientelismo e desconexão com a sociedade que deveriam representar.
O modelo de representatividade atual dos Legislativos só continuará tendo sentido se deputados e senadores conseguirem enxergar o enorme Brasil que existe fora do parlamento. Os parlamentares precisam também aprender a ouvir as vozes que tantas vezes não conseguem transpor as paredes dos gabinetes e dos salões acarpetados das chamadas Casas do Povo.