O Brasil enfrentou em 2024 um aumento de 79% de superfície vegetal incendiada em comparação com o ano anterior.
Foram 30,8 milhões de hectares queimados, especialmente na Amazônia, relevou nesta quarta-feira (22) a plataforma de monitoramento MapBiomas.
Ecossistema crucial para a regulação do clima, a Amazônia Legal foi a região mais afetada, com 17,9 milhões de hectares arrasados pelo fogo, 58% do total do país.
O ano de 2024 foi "atípico e alarmante" em relação aos incêndios no Brasil, advertiu Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo, a plataforma de monitoramento do Observatório do Clima, que reúne entidades ambientais, especialistas e universidades do País.
O número representa um recorde para a região em seis anos e supera a superfície queimada em todo o país em 2023, de acordo com o relatório.
Na Amazônia, pela primeira vez, o fogo devastou mais florestas que pastagens.
— Esse ano foi o primeiro em que a floresta despontou como o uso e a cobertura mais queimada. Isso é um péssimo indicador, porque, uma vez que elas são queimadas, elas ficam mais suscetíveis a outros incêndios — lamentou Ane à agência de notícias AFP.
Urgência de ações
Os cientistas vinculam os incêndios com o aquecimento global que torna a vegetação mais seca e, portanto, mais propensa a pegar fogo.
Mas os focos são quase sempre provocados por indivíduos que querem limpar a terra para pastagem e agricultura, ou abrir novos espaços para explorar, um crime que, na maioria das vezes, fica impune.
— Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações [...] para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana como foi a do ano passado — destacou Ane, que também é diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
O desafio da COP
O Pará foi o estado da Amazônia Legal mais afetado pelo fogo, com 7,3 milhões de hectares incendiados, um quarto da superfície total queimada em 2024.
Sua capital, Belém, será a sede da COP30, um evento com o qual o presidente Lula tenta impulsionar o Brasil à vanguarda da luta ambiental.
O presidente prometeu zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e pode mostrar números alentadores.
O Brasil deverá enfrentar o desafio de obter avanços nos compromissos para alcançar os objetivos do Acordo de Paris, especialmente depois que Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos do pacto.
A saída do maior poluidor mundial supõe um "impacto significativo" para a COP30, disse na terça-feira André Correa do Lago, designado pelo presidente Lula como presidente da cúpula.