Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Desde 2011, acompanho a temática dos contratos digitais, registros descentralizados e, mais recentemente, criptoativos. Uma das observações que me frustram é o fato de a maior parte das startups que aplicam essas tecnologias no setor de investimentos não se preocuparem com a interação entre seus produtos, ativos mais convencionais e carteiras de investimento de pessoas físicas. Normalmente, trabalham em soluções tecnológicas que só são úteis para quem já conhece e está envolvido com o tema. Por isso, tenho destacado algumas iniciativas que rompem com essa lógica.
Hoje, quero falar da Chainlink, que é uma empresa registrada nas Ilhas Caimã, mas cujos fundadores têm relação com o Vale do Silício. O produto que estão desenvolvendo é importantíssimo porque permite conectar contratos digitais inteligentes com parâmetros quantitativos ou qualitativos provenientes da realidade offline.
Digamos que você queira apostar com alguém que a cotação do dólar vai subir. A tecnologia de registros descentralizados na internet já permitia que você tivesse esse seu acordo fiscalizado por uma rede de outras pessoas que ajudam a garantir que o trato vai ser cumprido. Agora, com a Chainlink, você também pode automatizar e padronizar a coleta do dado sobre a cotação do dólar.
E se você for um negócio financeiro querendo criar um novo produto de investimento ou seguro, essa ferramenta pode automatizar a coleta de um grande número de variáveis simultaneamente, o que proporciona enormes possibilidades de inovação. Qualquer informação que tenha um provedor sólido, e dotado de uma interface de programação de aplicativos, pode ser incluída nesse processo. Dados sobre clima, preços de ações, taxas de juro, entre outros.
Essa é uma peça muito importante do quebra-cabeças da democratização do mercado de investimentos. Hoje, ainda é muito diferente ser peixe grande ou peixe pequeno, em matéria de acesso a oportunidades de investimento e capacidade de diversificação. Os peixes grandes, pessoas e instituições com muito capital, gozam de uma capacidade de customização de suas carteiras aos riscos que percebem. O mais irônico é que grandes instituições (fundos de pensão, assets e corretoras) ainda não conseguem fazer chegar essa personalização a seus clientes finais que não sejam extremamente vultuosos.
Com o trabalho de Chainlink, Neufund, e outras startups que perceberam essa discrepância, a realidade do setor pode mudar nos próximos anos. Isso significa um ajuste muito mais rápido e preciso do mercado perante as rápidas e complexas transformações que acontecem no mundo, o que eleva o setor de investimento a um papel muito mais relevante na sociedade, como um provedor de capacidade de resiliência e adaptação.