Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Quando o presidente eleito cogitou fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, vi manifestações apaixonadas contra e a favor. Faço aqui uma análise dos riscos e das oportunidades envolvidos nessa decisão.
Nossas políticas ambientais mais importantes são sobre mudanças no uso da terra, como o desmatamento, e suas consequências em termos climáticos e de perdas de recursos biológicos e hídricos. Essas perdas geram declínio de produtividade em vários setores da economia (agricultura, pecuária, beneficiamento e distribuição de alimentos, geração de energia, química, cosméticos, entre outros).
Ou seja, as causas dos problemas controlados pela política ambiental brasileira estão, principalmente, na agricultura e na pecuária, enquanto as consequências estão diluídas em vários setores da economia e da sociedade. Portanto, faz sentido estarmos preocupados com conflitos de interesse. Caso o ministro venha a ser alguém do velho ruralismo, aquele que não reconhece que o jogo da produtividade está ligado à inovação e proteção dos biomas, é de se esperar que o viés extrativista prevaleça.
Por outro lado, alguém que perceba sinergias poderia aproveitar nossas vantagens competitivas. Nenhuma outra nação tem tantas oportunidades de impulsionar, por exemplo, os biocombustíveis e os alimentos vegetais de alto valor proteico, que são duas prioridades da agenda climática global.
Fala-se também no aumento dos danos ambientais causados por empreitadas de outros setores, como energia e mineração, que hoje são licenciados e fiscalizados pelas autoridades ambientais e que passariam a ser parcialmente supervisionados por um ente ligado à agricultura. É um risco real, que depende do destino dado pelo novo governo aos processos de outros setores, o que ainda é uma incógnita. É hora de o presidente eleito começar a prestar contas à sociedade sobre suas decisões.