Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Há semanas, vi um vídeo de Steve Blank falando a uma plateia de brasileiros. Contava a história do Vale do Silício, com foco na década de 1970, quando o Vale liderava a corrida dos semicondutores. Encheu-me de esperança saber que um grupo de brasileiros ouvia a palestra, porque ela toca em um ponto fundamental: em matéria de inovação, cada região tem sua história. A californiana precisa ser contada pelo menos desde a década de 1940 para fazer sentido.
A cada dois anos aparece um empresário dizendo que vai transformar Porto Alegre em alguma coisa: Califórnia, Barcelona, Estocolmo. O que esses empresários têm em comum é o jeito de pensar. Querem replicar aquilo que acontece nessas localidades. Os bairros criativos, os hackatons, a presença das gigantes da tecnologia digital. A verdade é que o que acontece lá agora é o que menos importa. Essas coisas são efeitos, e não causas da inovação.
Deveríamos nos perguntar o que há em nossa história e em nossa economia que possa servir de embrião a um movimento genuíno de inovação.
Dizer, por exemplo, que o RS é a origem do movimento que espalhou pelo Brasil os produtos agrícolas que são a base da exportação nacional. Mapear o grande número de inovações financeiras que começaram aqui, inclusive na atualidade, com a recente compra da XP Investimentos pelo Itaú. Enfim, temos narrativas de inovação para todos os gostos. Só não vale pegar emprestado.
A estética das revoluções tecnológicas conta muito. Para criar uma identidade territorial de inovação, é preciso juntar o sentido econômico e o cultural da palavra. Sem os movimentos hippie e beat, São Francisco não seria o que é. Sem Lutzenberger e o Fórum Social, Porto Alegre também não. Os fundadores das empresas-âncora do Vale liam o Whole Earth Catalog na juventude, ou seja, foram fortemente influenciados por contracultura. Porém, aqui no Sul, dói demais às elites reconhecer o legado de nossas contraculturas.
Também não adianta basear a política de inovação em uma onda tecnológica que já passou: o surgimento da internet e a emergência das gigantes digitais. Temos que mirar naquilo que vem adiante e que, ao mesmo tempo, tem ligação conosco. A boa notícia é que os setores nos quais fomos protagonistas no passado, e nos quais temos capital humano, estão em plena transformação. São essas as arenas onde precisamos lutar.