Por Luís Felipe Saldanha, estudante de Medicina da UfPel
Quem trabalha no tratamento de dependentes químicos sabe muito bem que não há maneira de livrá-los do vício se eles não decidirem buscar uma mudança por si próprios. Por isso, usar a força bruta, além de não resolver o problema, ainda é capaz de agravá-lo.
Porém, vêm pipocando aqui e ali ideais e políticos que propõem o uso da imposição e da violência para deslindar temas de relevância. Elas até que pareciam boas – quando foram propostas em 1900!
Um grupo tentando criar uma sociedade alheia ao Estado? Mande o Exército para cima – e, assim, o povo de Antônio Conselheiro foi covardemente massacrado.
Seria como ter um leão cuidando de nosso jardim. Nenhum meliante ousaria atravessar a nossa cerca
Miséria e violência em uma comunidade pobre? Basta expulsá-la para outro lugar – afinal, foi assim que os cortiços cariocas se tornaram as favelas de hoje. Criminalidade aumentando? Nada estaria assim se cada pessoa tivesse a sua própria Glock na cintura. O Velho Oeste nunca teve ladrão e um "cidadão de bem" jamais usaria um revólver para ameaçar a esposa que ele crê postar fotos demais na internet, muito menos para contar vantagem em uma briga de trânsito.
Quando se quer que um cavalo ande, dá-se-lhe chibatadas, ou, quando uma criança nos desobedece, conduzimos-lhe pelo braço. A força bruta é simples e efetiva para trazer o fim de toda e qualquer ameaça. Seria como ter um leão cuidando de nosso jardim. Nenhum meliante ousaria atravessar a nossa cerca; temos um leão no jardim. O único problema seria se o leão continuasse com fome e, de repente, a nossa carne parecesse apetitosa e o nosso jardim, tão protegido, tornasse-se a jaula na qual estamos trancafiados com um felino ávido por colocar os dentes em algo a mais.
Não é que todas essas propostas não tenham seu encanto milagreiro, apenas que já foram tantas vezes aplicadas que não existe como dizer que são novidade. É a mesma violência que outras gerações tentaram usar e não serviu para nada. Na ânsia por soluções fáceis para problemas difíceis, precipitaram-se na piora daquilo que buscavam solucionar e foram todos para jaula do leão ao som de tambores e festas.