Por Oscar André Frank Junior, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA)
O início do mandato de Trump foi marcado pela edição de uma série de decretos. Um dos destaques envolveu a atualização das diretrizes que tornam mais rígido o processo de imigração.
Segundo o levantamento da National Foundation for American Policy, os nativos responderam por uma pequena fatia da expansão da oferta de mão de obra entre 2019 e 2024: 479 mil pessoas. Já os imigrantes adicionaram à força de trabalho 3,6 milhões de indivíduos (quase nove em cada 10, portanto). Quanto maior a escassez de recursos humanos, maior é a disputa entre as firmas, o que aumenta os ganhos de salários e, por sua vez, as pressões de demanda.
Como resultado, o banco central dos EUA precisará manter os juros mais elevados
Além disso, o chefe do Executivo instituiu tarifas nos artigos importados de México, Canadá e China desde 1º de fevereiro. Nos dois primeiros casos, acordos entre os respectivos governos suspenderam por 30 dias as novas alíquotas. Em contrapartida, o país asiático decidiu retaliar. Ao menos no curto prazo, o repasse (ainda que parcial) do encarecimento dos custos apresenta impacto potencial sobre a inflação.
Por fim, Trump deve estender o corte de impostos para pessoas físicas e jurídicas instaurado em 2017 e que expiraria em 2025. Conforme o Congressional Bugdet Office (CBO), a perda de arrecadação estimada é de US$ 4,6 tri ao longo de 10 anos, lembrando que o déficit orçamentário em 2023 chegou a US$ 1,65 tri, ou seja, 6,2% do PIB. Logo, existe um duplo efeito: por um lado, incentivo ao crescimento e, por outro, a continuidade dos desequilíbrios fiscais.
Essas políticas guardam relação porque contribuem para fomentar os preços. Como resultado, o banco central dos EUA precisará manter os juros mais elevados com o intuito de preservar o poder de compra do dólar, algo que colabora para a saída de capitais de outras nações, como o Brasil, em busca de rentabilidade.
O panorama descrito reforça nossa necessidade de fazer o dever de casa visando à atenuação de choques externos. A administração responsável das contas públicas é um bom caminho para tanto.