Por Thedy Correa, músico e palestrante
Chega setembro e as festividades da Semana Farroupilha reacendem o debate entre os que apoiam apaixonadamente as comemorações e aqueles que gostariam de riscar a data do calendário.
O principal argumento dos que são avessos às comemorações é que se trata de orgulhar-se de uma guerra perdida, um despropósito. É indiscutível que existem fatos envolvendo os Farrapos que revelam episódios de pouca nobreza, como no caso dos lanceiros negros em Porongos. Ou o suposto espírito abolicionista que era pra lá de relativo. Não me proponho a entrar nessa discussão, deixando para os que têm a devida competência: os historiadores
A Semana Farroupilha, como nós a conhecemos, andou para frente. Mudou. Deixou de ser o que era. As discussões tiveram pouco efeito sobre o rumo que as festividades acabaram tomando. Onde antes havia um "orgulho farrapo", difuso e impreciso, hoje se vê uma autêntica manifestação cultural associada ao folclore, hábitos e tradições gaúchas. O que antes tinha origem em um olhar nebuloso sobre o passado, hoje trata-se de uma festa popular daqueles que vivem o presente valorizando as tradições e o folclore do nosso Estado. Mas ela é também a oportunidade perfeita para trazer à tona o sempre necessário debate sobre o nosso passado, fazendo luz sobre o que de fato aconteceu. A verdade, doa a quem doer, principalmente em tempos em que muitos tentam reescrever a história. O debate crítico não pode parar, muito menos em setembro.
É preciso que haja a valorização das manifestações culturais ali presentes. Sem intolerância ou preconceitos que impeçam o reconhecimento da cultura campeira. Músicos, poetas, cantores de enorme talento que jamais poderiam ser considerados artistas de segunda linha apenas por representarem o nosso folclore. A Semana Farroupilha não é mais a mesma. Não representa o que antes representava. Além de genuína manifestação cultural, ela hoje significa um resgate da autoestima dos gaúchos.